sábado, 19 de outubro de 2013

Os Rituais Maçónicos e o Segundo Nascimento


         Uma das características que define a instituição maçónica é a sua forma ritualista segundo rezava inclusivamente, um dos artigos da Constituição Maçónica de 1926. Esta foi sem dúvida, uma das prerrogativas que mais interesse e mistério suscitou nas sociedades onde o fenómeno cresceu ao longo dos tempos. Se olharmos para muitos artigos e livros podemos ver que estes rituais são muitas vezes adulterados e falsificados, viciando a descrição de cerimónias e actos que em nada se parecem com a realidade e patenteando palavras que nunca significaram nada de facto para a simbologia dos rituais maçónicos.
            A nossa vida baseia-se quase toda em desígnios de rituais, não nos esquecendo que muitos dos actos de cortesia e de civilidade são eles próprios ritualistas. A utilização de medalhas, de amuletos, de emblemas, sejam eles de que tipo forem são normalmente actos simbólicos ou ritualistas que nem sempre temos em consideração. Qualquer cerimónia religiosa, cristã ou pagã, por exemplo, é um ritual mais ou menos consciencializado. O que estas afirmações pretendem lembrar é que o ritual maçónico é apenas mais um entre tantos outros que abundam na nossa via quotidiana. É de notar que os rituais da Maçonaria têm vindo-se a simplificar com o passar dos tempos à semelhança do que acontece com os rituais cristãos. No entanto, o significado histórico e moral do ritual é de conhecimento obrigatório para qualquer Maçon apesar da sua simplificação.1
            Existe dentro da Maçonaria uma corrente espiritualista que vê os rituais muito mais do que conjuntos de símbolos ou de prácticas simbólicas de fácil explicação racionalista, da qual poderia haver uma abolição por completo sem que a essência da Ordem fosse afectada. Para esta corrente específica, a Maçonaria dispõe de um método próprio conhecido como a Verdade Absoluta ou a chamada de Via Iniciática. Esta iniciação leva o individuo ao verdadeiro conhecimento por uma iluminação interior. Esta iniciação real deve distinguir-se da simbólica, que é apenas um reflexo da primeira. Há autores que consideram o método iniciático meramente intuitivo, sendo utilizados símbolos para essa aproximação da iluminação, do conhecimento. É difícil a tradução fidedigna dos símbolos maçónicos para uma linguagem usual e segundo as palavras de C.Chevillon, “só o silêncio pode permitir-nos entender a via subtil das essências”. Nas palavras de F.Pignatel, “os verdadeiros segredos da Maçonaria são aqueles que não se dizem ao adepto e que ele deve aprender a conhecer pouco a pouco, soletrando os símbolos”. 2
                Demarca-se assim um confronto entre uma concepção religiosa e metafísica da Maçonaria ligada à nostalgia do Cristianismo e uma forte resistência de todos os que a vêem como uma instituição laica, racionalista e progressiva. Um fenómeno que se encontra na vanguarda do conhecimento humano e das conquistas sociais e políticas da Humanidade não é compatível com uma vertente religiosa baseada em métodos não científicos. Há a defesa do ritual enquanto práctica indispensável à união da Ordem, mas existe também a rejeição de qualquer explicação que não seja puramente racionalista e simbólica.
            O momento mais importante da vida de um Maçon é a cerimónia de Iniciação. É considerado como um verdadeiro baptismo maçónico, que se destina a admitir um “profano” no seio da Irmandade. No que se designa como “câmara das reflexões”, que simboliza a Terra e a Morte, o futuro Maçon assina um compromisso de honra, responde a um questionário sobre os deveres de todo o Homem e faz uma declaração de princípios de natureza moral, filosófica ou política chamada de “O Testamento”. Dá-se o encontro numa sala entre o ainda profano e os restantes Maçons, onde são testadas as qualidades e os propósitos, havendo no final a aceitação ou rejeição do iniciado. Esta é uma cerimónia que tendeu a simplificar-se, principalmente em Maçonarias que foram alvo de perseguições e viveram na clandestinidade. No juramento maçónico do Grande Oriente Lusitano, a essência deste acto é:
“Pela minha honra, de minha livre e espontânea vontade, na presença do Supremo Arquitecto do Universo e desta Respeitável Loja, juro e prometo, solene e sinceramente, não revelar nunca os segredos e mistérios da Maçonaria actualmente meus conhecidos ou que de futuro venha a conhecer, senão a um bom amigo e legítimo Maçon ou numa Loja regularmente constituída; a não dizer nem por qualquer forma divulgar o que pude ver e ouvir, ou acidentalmente descobrir dentro ou fora das Assembleias Maçónicas, sem que para isso haja obtido licença dos corpos superiores, legalmente constituídos, e somente pela forma que me for indicada; a trabalhar com zelo, constância e regularidade na obra da Maçonaria, procurando a Verdade; a amar os meus irmãos, ajudá-los e socorrê-los nas suas necessidades. Igualmente juro e prometo observar a Constituição e Regulamento Geral, as leis do Rito Escocês Antigo e Aceite, e Regulamento desta respeitável Loja e Grande Oriente Lusitano, e todas as leis maçónicas em vigor”. 3
            Este conceito de Iniciação deriva da palavra Initium, que significa entrada e começo, entrada num novo  caminho ou começo de uma nova existência. É assim um acto considerado como um segundo nascimento e uma regeneração. Esta ideia de segundo nascimento está relacionada à abertura de um outro mundo ao ser humano e de regeneração está associada ao restabelecimento das prerrogativas naturais e à condução ao estado primordial da Humanidade. Para que o profano se torne iniciado terá de “morrer e nascer de novo”. Este nascimento será para um novo mundo, para um mundo de Luz e de Conhecimento.
            Esta “morte” encaminha para o terceiro nascimento que é a passagem efectiva da ordem psíquica à espiritual. Esta influência espiritual será uma espécie de semente lançada num terreno que poderá ou não ter condições para evoluir e dar origem ao verdadeiro desenvolvimento espiritual, a uma nova planta. Após esta transmissão de influência, o neófito segue todo o processo de instrução iniciática que terá de ser acompanhado por um guia espiritual, por um mestre. No caso particular das tradições maçónicas, este guia não é um único individuo mas sim toda a comunidade que recebeu o novo iniciado. Para que este processo seja bem-sucedido, é necessário que haja uma filiação legítima e autêntica de toda a comunidade. Existe um grande rigor seguido pelas instituições iniciáticas, podendo haver mudanças consoante cada momento cíclico, sem que no entanto, sejam incorporados elementos de outras formas tradicionais. 4
            O alcance do conhecimento é conseguido através desta iniciação, que é feita por fases e que torna o medo de chegar ao conhecimento algo impossível. Estas provas ou fases são normalmente conhecidas como viagens simbólicas que conduzem o individuo das Trevas para a Luz, purificando-o ao longo do caminho. As viagens relacionam-se com os diferentes elementos, remetendo o Ser para um estado de simplicidade e de caos que “aguarda a Luz para que a perfeição primordial se refaça”.
            Neste processo de Iniciação as possibilidades da natureza individual são a matéria-prima e que para esta matéria se organize é necessário que receba iluminação, a influência espiritual e daí as expressões de dar e de receber a Luz. Quem transmite essa Luz, essa influência espiritual fá-lo em nome de toda a comunidade e não em nome próprio. Uma das principais acções deste ritual é a conhecida como “Descida aos Infernos”, onde o iniciado se purifica esgotando assim todas as suas possibilidades inferiores. As possibilidades do estado profano são esgotadas para que o Ser possa desenvolver livremente as possibilidades de ordem superior que traz em si mesmo.
            A Iniciação implica um conhecimento profundo sobre cada um de nós e a existência de uma elite composta por quem está apto a receber esse ensinamento especial. A constituição da elite segue uma linha de apoio à qualidade e não à quantidade, pois todos podem ser chamados mas poucos serão os verdadeiros escolhidos. 5
 
Ana Cristina Santos
        Fontes:
1 -  MARQUES, A.H. DE OLIVEIRA – A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo. Publicações Dom Quixote 1975. Consultado a 16 de Outubro de 2013, pelas 19h
2 - Idem
3 - Idem
4  - CARVALHO, ANTÓNIO CARLOS – Para a história da MAÇONARIA em Portugal 1913-1935. Editorial Vega 1976. Consultado a 17 de Outubro de 2013, pelas 20h
5 - Idem
 
 

Da lareira ao skype

Desemprego, cortes nas pensões e nos salários marcam nova ronda de austeridade

“Antes as famílias reuniam-se à volta da lareira e hoje reúnem-se à volta do Skype”. Esta é a interpretação de Eduardo Paz Ferreira quando o desemprego preocupa milhares de europeus. O futuro negro e incerto de Portugal marcou o debate e o descontentamento saiu à rua nos 103 anos da implantação da República

Carlos Dias juntou-se ao pequeno grupo de manifestantes do movimento “Que se lixe a troika!”. De pólos vermelhos, bonés, casacos de cabedal, cartazes, máquinas fotográficas e os pés bem assentes na calçada portuguesa, os protestantes abafaram com vaias o hino que não foi cantado alto o suficiente neste 5 de Outubro.

Este outrora feriado foi pretexto para dar som ao descontentamento enquanto a bandeira ‘portuguesa com certeza’ era hasteada pelo Presidente da República. Mas nem o calor do protesto fez com que Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e António Costa desviassem a sua atenção da mesma bandeira e da mesma varanda que, em 1910, declarava mudanças.

Curiosamente, na véspera deste dia inundado por um calor atípico para o início do novo mês, discutiram-se realidades igualmente importantes, em Lisboa. A sala forrada a azul, vermelho e branco presta tributo a um dos mais conhecidos compositores portugueses do século XX,  Luís Freitas Branco. Após cruzar dezenas de escadas de pedra mármore, uma entrada de madeira faia surge, tal como muitas das suas orquestrações, impetuosa. Chegámos à sua sala.

O debate “A cidadania europeia e os desafios da empregabilidade“ centra-se no que mais preocupa os cidadãos europeus - o desemprego. Sobre este tema, o jurista Eduardo Paz Ferreira, com um pequeno bloco de notas e o seu fato azul-escuro, não tardou em fazer soltar o seu sentido de humor. “Antes as famílias reuniam-se à volta da lareira e hoje reúnem-se à volta do Skype”. A crise como um “período nada transitório como costuma ser a sua natureza” e um “pântano escorregadio e instável” é uma das pontes para falar do regresso do fenómeno dos anos 60 – a emigração portuguesa.                  

A necessidade de dar resposta ao desemprego está cada vez mais presente nas redes sociais e na televisão com programas como Portugueses pelo Mundo. E para o ambientalista José Soromenho Marques “não é a União Europeia que precisa de salvação devido ao seu defeito genético de design mas sim a economia de mercado”. Ao lado deste, o professor Adriano Moreira sobe ao púlpito para sublinhar a dignidade do Homem como principal princípio para a sociedade numa Europa vítima de situações injustas. Alerta, ainda, para “essa espécie de terceira guerra mundial (tal como Nixon defendera)” e “um ‘neo-riquismo’ vivido pelos europeus”.

Preocupada com os 15 trabalhadores portugueses recentemente desalojados de Mühlenbach, uma das habitações sociais para emigrantes em Luxemburgo, Marisa Matias em representação do Gabinete do Parlamento Europeu, apresenta a UE como “objecto político não identificado”. Rasga um sorriso e lança uma interpretação provocatória sobre as duas velocidades da UE. “A Norte vivem os virtuosos e a Sul os preguiçosos.” A sala pára, tira notas e, segundos depois, dezenas de posts aparecem nas redes sociais como o facebook ou o twitter. Já Maria Graça Carvalho, monocórdica, manifesta uma nítida preocupação em relação ao orçamento europeu que definirá o futuro dos cidadãos dos 27 estados-membros até 2020.

Os deputados europeus António Correia de Campos e João Ferreira defenderam visões unânimes sobre o Estado Social na Europa. A inexistência de instrumentos directos no combate ao desemprego e o crescente individualismo faz da última intervenção de João Ferreira, a mais sarcástica daquela manhã de sexta-feira: “Se os ricos não tratarem dos pobres, um dia os pobres vão tratar dos ricos”.
Ao mesmo tempo que a cidadania europeia e o desemprego animavam a conversa no CCB, a oitava e nona avaliação estavam a ser discutidas na Assembleia da República. A caminho do novo ano e com estreitas relações com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, a troika consagra-se chefe omnipresente de Portugal e estabelece objectivos concretos da política orçamental para 2014.

Ninguém lhes ficou indiferente. Desde o final daquela manhã, as mais recentes obrigações tornam-se alvo de comentários nos mais variados meios de comunicação social desde a TSF à TVI, no café ‘O Restelo’ ou noutras tertúlias, nas paragens de autocarro ou entre alunos e professores nas universidades.
Cavaco Silva desvaloriza a imprevisibilidade do comportamento dos mercados e a previsão da recessão para o mesmo ano, manifestamente convencido que o crescimento económico, a estabilidade política e o orçamento de estado para 2014 são os três factores fundamentais para o Governo conseguir cortar 3,6 milhões de euros em apenas 365 dias. “Era uma vez” um segundo resgate para Portugal, acredita o Presidente da República.

Já Pedro Passos Coelho alerta os portugueses para uma nova vaga de austeridade, como de se de uma lufada de ar fresco se tratasse, uma vez que o crescimento da economia no terceiro trimestre não irá ser o suficiente. “Muitas das medidas que nós temos, estas ou outras, terão de se manter durante muito tempo se quisermos manter Portugal dentro do euro e dentro da disciplina orçamental” declara, repetidamente, o primeiro-ministro nos noticiários da noite.
Após a manifestação do outrora feriado comemorativo da República Portuguesa, as novas avaliações da troika e a meta da ‘Volta a Portugal’ do défice definem os dias de negociação do próximo OE. Mais uma ronda de austeridade marcada pelo aumento da idade da reforma, convergência de sistemas e de regras de trabalho, cortes nos salários e nas pensões de sobrevivência. Desempregado há quase dois anos, Carlos Dias chega a casa. E o futuro continuará igual.
 
Adriana Correia

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Das bonecas à luta.

"No caminho para a escola eles podem matar-nos, atirar-nos com ácido para a cara, fazer o que entenderem. Mas eles não podem parar-me, eu vou ter a minha educação"
(Malala Yousafzai, 11 anos)


 
E não parou.
A luta de Malala começou quando, no período entre 2007 e 2009, os Talibãs ordenaram o encerramento das escolas para mulheres e impuseram a Sharia. Este acontecimento revoltou Malala que acabou por trocar as bonecas pela luta a favor da educação das mulheres.
Com apenas 11 anos já escrevia, sobre anonimato, para um blogue da BBC onde relatava a realidade vivida no Paquistão sobre domínio Talibã e as suas medidas extremistas. Determinada, anos mais tarde, na altura com 14 anos, Malala sofrera um atentado a caminho da escola, acabando por ser baleada no pescoço e na cabeça. Este atentado, realizado por um talibã, pretendia calar Malala para sempre, porém acabou por assistir-se ao inverso. Surpreendentemente sobreviveu e hoje, passado um ano, é activista dos direitos à educação das mulheres no seu país. Com este percurso de coragem e de força, Malala tornou-se a pessoa mais jovem a ser nomeada para o Prémio Nobel da Paz, prémio que acabou por ser conquistado pela Organização contra Armas Quimicas. Contudo, já conquistou muitos outros prémios. O mais recente triunfo foi o prémio Sakharov, prémio esse atribuído a pessoas ou organizações que lutam a favor e em defesa dos direitos humanos e da liberdade.  
Esta "pequena gigante" jovem já conseguiu algo inédito. Em Swat, província onde cresceu, o número de meninas na escola é cada vez maior. Apesar do medo imposto pelos radicais o sucesso de Malala tem conseguido mudar mentalidades e atrair cada vez mais pessoas às salas de aula.

Com apenas 16 anos, sonha em ser Primeira Ministra do Paquistão e tem já uma vida recheada de momentos marcantes, Malala em colaboração com uma jornalista acaba de lançar um livro intitulado "I am Malala". Para apresentar o seu livro, a jovem foi convidada para o programa Daily Show na CNN, deixando o apresentador sem palavras com algumas das suas respostas.

 
Numa outra entrevista a um site, Malala refere que os Talibã não seguem verdadeiramente as leis do Alcorão: “O Talibã criou um sistema próprio de leis, que não tem nada a ver com o Islã. O Islã nos diz que a educação e o conhecimento são direitos de todas as pessoas. Então, eu acho que o Talibã não leu o Corão da forma apropriada. Eles precisam sentar e ler o texto novamente, com calma.” (1)
 
 
No dia 11 deste mês, dia internacional da Rapariga, foi apresentado em Portugal um documentário "Girl Rising", sobre nove raparigas de 9 países diferentes que lutam, todos os dias, por uma educação livre e justa, sem géneros, sem racismos, sem diferenças. Verdadeiros exemplos para todos nós.

 
 



(1)- http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/a-educacao-e-o-caminho-para-acabar-com-o-terrorismo-diz-malala


Fontes:
http://sol.sapo.pt/inicio/Internacional/Interior.aspx?content_id=87724
http://br.noticias.yahoo.com/malala-lan%C3%A7a-livro-afirma-quero-tornar-primeira-ministra-223244909.HTML
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=3469067




Marta Fernandes,
 
212295

  
 
 


O Orçamento do Estado 2014 – Conferência na Universidade Católica Portuguesa

Ontem (dia 17 de Outubro) esteve em análise e discussão o OE 2014. O primeiro painel era sobre análise política do OE, constituído por Miguel Beleza, João César das Neves, Óscar Gaspar e Basílio Horta. Basílio Horta começa por dizer, depois de uma confusão da parte de Graça Franco (moderadora) devido ao nome Gaspar, que este Orçamento é um Orçamento “Vítor Gaspar”, ou seja, trata-se de um documento indecente, que vai aumentar a carga contributiva dos cidadãos, e sendo necessário um corte de 4 milhões de euros, este vai ser aplicado sobre as reformas. O que ressalta deste OE é a espiral recessiva que são mais impostos, menos procura interna, e menos PIB. O orador indaga porque é que se insiste neste método, se já ficou bem claro que não resulta. Trata-se de uma escolha entre as pessoas e a dívida, e neste caso claramente que se optou pela dívida. Este modelo pode, na opinião de Horta, conduzir a convulsões socias, para as quais o país não está preparado.

César das Neves começou a sua intervenção por dizer que era um OE que tinha a bênção das instituições internacionais, o que de certa forma, para os dirigentes, legitimava-o. Sublinhou que a previsão de taxa de desemprego para 2014 será de 18%. E salientou (várias vezes durante o debate) que a economia parou de cair, e neste momento encontra-se simplesmente estagnada. Avançou com números, dizendo que em 2011, o corte necessário na despesa era de 13 162 mil milhões, e que se o OE 2014 correr bem, teremos feito um corte total de 10 000 mil milhões de euros. O que nos leva a reflectir e a indagar que a austeridade não vai ficar só por 2014.

Miguel Beleza, no seu habitual tom jocoso, lançou pistas sobre o modelo que ele acha que deveria ser aplicado, tal como a taxa de IRC de 0% (não deveria existir), argumentando que só se taxa as empresas porque não se sabe taxar as pessoas, devia existir um IVA único, um imposto sobre a despesa único, e (a cereja no topo do bolo) as transferências para as regiões autónomas deveriam ser cortadas. Termina a intervenção dizendo que “a economia bateu no fundo”.

Já Óscar Gaspar disse que o défice português só seria de 5.8 devido ao perdão fiscal. Defende que o principal problema do OE é não existir uma estratégia económica e financeira clara, defendendo que com este modelo não se consegue ver resultados, e Portugal está com um crescimento anémico, praticamente inexistente. Têm sido “orçamentos de malandro” pois faz-se tanto corte, sem existirem realmente medidas estruturais, é a típica mentalidade tuga de “tapar buracos”. Também o facto de existirem vários grupos dentro do governo, contribui para que o país lá fora seja visto como instável, e torna-se difícil aceder aos mercados.

Na segunda ronda do debate, Miguel Beleza começou por dizer que Portugal tem 70 juízes do Supremo Tribunal de Justiça, e metade dos professores de Espanha, dados para defender uma necessária, segundo ele, reforma institucional. Declina o apoio às Pequenas e Médias Empresas, pois diz que estas “têm obrigação de se tornar uma GEE, Grande e Enorme Empresa”.

César das Neves, nesta segunda e última ronda, fala que o ajustamento da economia sempre aconteceu, o desemprego não subirá muito mais. No entanto, estas medidas presentes no OE não são o que deviam ser, não são estruturais. A reforma do estado é que não vai acontecer, e a razão é porque os grupos instalados não permitem, e esses mesmos grupos não vão sair de lá tão cedo. A questão para César das Neves é que os cortes são dirigidos aos do costume, àqueles que se sujeitam e não têm capacidade de contestação. Mas, segundo o orador, analisando a história económica do país, isto tudo vai acabar por correr bem, mas não por força da elite, mas sim porque o povo português encontra sempre forma.

Basílio Horta reforça a ideia de César das Neves, de que só se tira àqueles que nada podem fazer para o impedir. Relembra que o memorando era suposto ser um acto de emergência. E é um defensor afincado de que este caminho não nos leva a lado nenhum, que o investimento privado é essencial, assim como o apoio às empresas. Pressiona a audiência questionando o papel que Portugal quer ter na Europa, e que país é este que estamos a construir à custa da austeridade. Defende que é o “caminho do insucesso nacional”.

Óscar Gaspar, durante esta ronda, potencia a reflexão sobre a questão europeia, defendendo que a criação da moeda única potenciou muitos problemas estruturais em Portugal. Usou o exemplo da Irlanda, que já se encontra no fim do programa de ajustamento com um défice mais elevado que o nosso, e no entanto decidiu fazer um OE pró-emprego. Acentua, mais uma vez, a necessidade de uma verdadeira estratégia nacional.


E assim terminou o debate aguerrido entre estas figuras. Os painéis que se seguiram centraram-se na discussão técnica de medidas específicas do OE, relativas ao IRS, IRC, IVA e reforma do IRC.

Susana Amador
Bloco de Esquerda: Análise da proposta do Orçamento do Estado (2013/2014)


A ministra das finanças classificou a proposta do Orçamento do Estado para o próximo ano com «exigente, mas equilibrada; dura mas equitativa». «Exigente» e «dura», sempre para os mesmos, para os funcionários públicos e pensionistas. De «equitativa» esta proposta não tem nada, visto que, a grande maioria dos cortes (82%) que o Governo pretende fazer vão recair sobre os funcionários públicos, pensionistas, a Educação e a Saúde. Já os monopólios da energia e a banca apenas suportam 4% dos cortes que o Governo deseja fazer. Estes são (muito resumidamente), os objectivos do Executivo para o próximo não. Onde está a equidade? Esta questão deixaria Passos Coelho e Companhia sem resposta mas, a pior que teriam de enfrentar seria: «quais as alternativas à política de austeridade que apresenta?», caso o Tribunal Constitucional não concorde com o que está a ser feito. Afinal «não há um plano B» (isto dito por Maria Luís Albuquerque).
É Claro que não existe um «Plano B» para o Governo, visto que, «(…) mentiu novamente e segue por um caminho que se provou que não tem saída, quando apresenta ao país um défice para 2013 que prova que a austeridade não compensa" (Palavras de Pedro Filipe Soares), dada a derrapagem do défice de 2013 para 5,9 valor superior ao que tinha sido acordado com a Troika (5,5%).
Mas o Governo não mente apenas relativamente ao défice. Mente também quanto aos seus objectivos e as suas preocupações. Isto porque se de facto quisesse crescimento económico e se preocupasse com o bem-estar das pessoas, se facto pretendesse um Orçamento «equitativo» não reduzia salários, pensões ou o abono de família e não aumentava a idade da reforma. Se de facto fosse verdade que, o Governo estivesse preocupado com o aumento de emprego e investimento não subia o IVA da restauração e não baixava o IRC.
Não temos apenas um Governo especialista em mentiras, temos também um Governo especialista em atribuição de culpas. A Ministra das Finanças na apresentação da proposta do Orçamento do Estado justificou (sem demora) que a culpa de a factura da divida cair sobre os pensionistas e funcionários públicos se deve em grande parte aos investimentos feitos pelo anterior Governo (PS), em estradas, tendo-se verificado em relação a 2013 um « acréscimo dos encargos com as Parcerias Publico – Privadas. É certo que estes encargos juntamente com os juros da dívida davam para pagar quatro vezes os cortes de salários e pensões. Sucessivos erros que vão sendo cometidos de Governo para Governo e a culpa é sempre do outro mas, quando se trata de reparar esses erros, a responsabilidade cai sempre em cima dos mesmos!
  É ao verificar austeridade e mais austeridade que o Bloco de Esquerda, se assume como opositor a esta proposta de Orçamento de Estado e tudo fará para que seja rejeitada, usando todos os instrumentos possíveis, quer junto do Tribunal Constitucional, quer no Parlamento (e com o apoio do Partido Socialista), quer nas ruas manifestando-se, demonstrando às pessoas que não estão sozinhas no combate a este «brutal pacote de austeridade» a que estão sujeitas. 
Jéssica Caetano

Fontes:
Jornal de Negócios, 16 de Outubro de 2013
http://www.esquerda.net/

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O que dizem os estudos...


Um estudo realizado por São José Almeida sobre a participação nos Movimentos Sociais e nos partidos, revela que a falta de confiança nos políticos é problema com maior expoente.
Os cidadãos têm a percepção de que os governos são pouco autónomos e orientam-se por interesses incapazes de sustentar algum tipo de credibilidade.
Este estudo demonstra que os portugueses sentem-se mais representados pelos movimentos sociais de protesto do que pelos partidos políticos. Deste modo, o Barómetro da Qualidade da Democracia apurou que num total de 100%, apenas 12% dos inquiridos afirmaram que «entre as "instituições e agentes individuais de representação política" existentes na sociedade portuguesa, aquela pela qual que se sentam melhor representados é os "movimentos sociais de protesto", enquanto outros 10% apontam os "partidos políticos", uma percentagem que é igualada pelos que apontam "os sindicatos". À frente deste indicativo de representatividade surge o Presidente da República, com 22% de preferências. E em último os autarcas, com apenas 3%, atrás até da Igreja, com 7% de escolhas.»
Já António Costa Pinto, outro autor do estudo, argumenta que a participação em movimentos sociais deve-se  à ausência do sentimento de pertença a um partido , acrescentando que, quando fala de manifestações sindicais,  deve-se ao facto destas expressarem  esse sentimento de desconfiança. Isto é «quanto mais a iniciativa é independente dos partidos, mais adesão tem».
Por outro lado, quando estamos perante este tipo de estudos, facilmente se remete para a ideia de que os autarcas são os que representam melhor os cidadãos. O estudo constata que esta teoria não passa de um mito. Pois, na verdade o estudo não comprova esta tendência. 
Na questão que coloca em causa o índice de credibilidade do Presidente da República, chama-se a atenção para o facto, de assumir uma referência de extrema importância no que diz respeito à representação dos interesses da Nação. O que não impede que esta “tradição” seja dissimulada pela actual conjuntura. Todavia, o Presidente da República é por norma o símbolo da esperança nacional.  Mas será Cavaco Silva o símbolo da esperança que os Portugueses tanto procuram?
Na perspectiva do sociólogo Luís Sousa, outro autor do estudo, este está a perder de forma galopante a sua projecção. Tudo por causa da sua total contradição na coerência do discurso e da acção.  E o sociólogo conclui: «As pessoas que se manifestam nas ruas não são iletradas, sabem qual o papel do Presidente no permitir de inconstitucionalidades
Quando a descredibilização dos políticos é uma das premissas considerada  um indicador chave  na classificação de um dos factores principais que contribui para a degradação da democracia,  Luís de Sousa conclui que «os três problemas da democracia em Portugal mostram como há uma degradação do ponto de vista ético das lideranças que se torna mais acentuada com as medidas de austeridade». Logo, a descredibilização dos políticos leva a que os inquiridos escolham o Presidente como o principal agente de responsabilização dos abusos efectivos dos governos.[1]
Outra das ilações a que se pode chegar, prende-se com o facto de os portugueses acharem que o Governo está condicionado, que acaba por sustentar a conclusão a que se chegou no início no estudo, ou seja, a falta de autonomia de Portugal. E disso não há a menor dúvida. Desde que a Troika chegou a Portugal, os portugueses tem cada vez mais sérias dúvidas, quanto à sua permanência, que nos coloca numa situação de clarividência de um Portugal Protectorado.
Indo de encontro ao assunto que este estudo aborda, achei pertinente referenciar o debate sobre “Os Novos Movimentos Sociais” que a Associação para o Aprofundamento da Cidadania irá realizar no dia 19 de Novembro. A Associação interroga-se: «Será esta uma nova forma de democracia participativa? Onde falhou a democracia representativa? Onde falharam o Estado, os partidos políticos, os governos? Falta massa crítica ou liderança? Que influência e instrumentos têm estes movimentos para a mudança de paradigma? Para onde caminham estes movimentos e com que objectivos? Encontrarão estes movimentos as soluções para os problemas e desafios que enfrentamos?». [2]
Estas e outras questões são o mote para compreender o que faz mover estes cidadãos e os moldes nos quais se desenrolam estas acções.
 
 
 
[1]Fundação PROJUSTITIAE, Movimentos sociais de protesto estão à frente dos partidos e a falta de confiança nos políticos é o maior problema, estudo publicado na página da Fundação PROJUSTITIAE. Disponível em: http://www.projustitiae.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1444:movimentos-sociais-de-protesto-estao-a-frente-dos-partidos-e-a-falta-de-confianca-nos-politicos-e-o-maior-problema&catid=15:noticias-anteriores&Itemid=23 [consultado a 17 de Outubro de 2013 às 21h:52]
[2] Portugal Orçamento Participativo, Debate sobre "Os Novos Movimentos Sociais”, publicado na página do Orçamento Participativo. Disponível em: http://ptnetok.com/opportugal/agenda.php?id=924 [consultado a 17 de Outubro de 2013 às 22h:08]
 
Margarida Mendes
17 de Outubro de 2013
 
 
 
 
 

A união faz a força!


«Todos às ruas, todos às pontes!» é o título do último comunicado emitido na manhã de ontem pelo movimento “Que Se Lixe a Troika” . E o comunicado diz o seguinte: «Perante o desastre humanitário que se abate sobre o país, que se confirma e agrava com a apresentação do Orçamento do Estado para 2014, apelamos a toda a população que se manifeste contra a política de massacre levada a cabo há mais de 2 anos por este governo.
Solidarizamo-nos totalmente com a organização da CGTP e da sua manifestação a 19 de Outubro, fortemente atacada por um governo partido e que quer proibir uma manifestação sob a cobertura de critérios técnicos dúbios. Esta posição inédita na história recente do país é um atentado directo contra o direito de manifestação configurado na Constituição da República, documento que aliás o Governo já afirmou publicamente querer mudar. Estaremos presentes na manifestação a 19 de Outubro – em Lisboa na Ponte 25 de Abril e no Porto na Ponte do Infante - e juntamo-nos ao apelo à participação popular, rejeitando a chantagem do medo imposta pelo governo. Todos os momentos de luta devem juntar-se e apelamos a um mês de Outubro que derrube definitivamente este governo com o seu orçamento destruidor e que imponha a saída da troika e das suas medidas que estão a destruir o país e o sul da Europa – estaremos na rua a 19 de Outubro, no Ponte-a-pé ao governo, e a 26 de Outubro em todo o país na manifestação Que Se Lixe a Troika – Não Há Becos Sem Saída.
Mais de 800 pessoas já subscreveram a convocatória da manifestação Que Se Lixe a Troika, Não Há Becos Sem Saída, que se realizará a 26 de Outubro em todo o país. Lista completa disponível aqui. Já existem convocatórias descentralizadas para 11 cidades: Aveiro, Braga, Coimbra, Faro, Funchal, Lisboa, Portimão, Porto, Setúbal, Viana do Castelo e Vila Real. Há Saída!»
[1]

O movimento não vai baixar os braços e mais do que nunca vai procurar reunir todas as forças necessárias, pelo que, todos os contributos são uma mais-valia, independentemente da força reaccionária que possa estar adjacente. O movimento não demonstra problemas em juntar-se à manifestação da CGTP. O que está em causa não é a identidade de quem organiza a manifestação, mas sim, o total de cidadãos que saem às ruas e se juntam ao protesto.

Para além disto, os representantes do movimento, deslocaram-se hoje à Assembleia da República e foram recebidos por Assunção Esteves, que não colocou nenhum entrave à ocupação da escadaria no dia em que está agendado o protesto.

OS elementos que se fizeram ouvir, como já foi referido anteriormente, vão juntar-se às concentrações convocadas pela CGTP, que estão apontadas para o próximo sábado.

Lúcia Gomes, membro do movimento, declarou que o objectivo deste diálogo foi encontrar as condições necessárias para levar a cabo todas as acções previstas, que visam corroborar o executivo de Passos Coelho.

O movimento irá representar várias associações e cidadãos que estão contra o novo Orçamento do Estado. [2]

No entanto, Assunção Esteves, referiu que a segurança desejada pelos membros do movimento, não depende da sua vontade. Dizendo que cabe às autoridades de segurança, a tomada de decisão relativamente à ocupação da escadaria da Assembleia. Caso as autoridades o permitam, Assunção Esteves, não se irá opor. [3]

 

[1] O comunicado foi disponibilizado por um membro do Movimento via correio electrónico a 16 de Outubro de 2013.

 
[2] Notícias ao Minuto, Assembleia da República Assunção "não se opôs" a protesto 'Que Se Lixe A Troika', artigo publicado na página Notícias ao Minuto a 17 de Outubro de 2013. Disponível em: http://www.noticiasaominuto.com/economia/118317/assuncao-nao-se-opos-a-protesto-que-se-lixe-a-troika#.UmApYmxdaM9 [consultado a 17 de Outubro de 2013 às 19h:34]

 
[3] Notícias ao Minuto, Assunção Esteves Decisão sobre utilização da escadaria "compete" à polícia, artigo publicado na página Notícias ao Minuto a 17 de Outubro de 2013. Disponível em: http://www.noticiasaominuto.com/pais/118456/decisao-sobre-utilizacao-da-escadaria-compete-a-policia#.UmA1A2xdaM8  [consultado a 17 de Outubro de 2013 às 20h:12]

 
 
Margarida Mendes
17 de Outubro de 2013

Isto é um Roubo!

Esta semana tem sido um autêntico inferno para os funcionários públicos  e pensionistas. Um governo sem coragem e capacidade de enfrentar os cidadãos com clareza e transparência, isto deve-se ao facto do nosso Vice-Primeiro Ministro Paulo Portas omitir aos portugueses um pacote de austeridade brutal que irá atingir a função pública entre os 600€ e 2000€, bem como acima deste último valor. Na passada terça-feira dia 15 de Outubro foram apresentadas as medidas de austeridade pela ministra Maria Luísa Albuquerque que incluíram no orçamento do estado para 2014. Prevê-se um corte entre os 2,5% e os 12% na função pública, sendo que a partir dos respectivos 600€ até 2000€ equivale a cortes de 2,5% a 12% e dos 2000€ para cima cortes previstos de 12%, fazendo-se notar que a penalização máxima não irá para além deste último valor percentual. As pensões do estado até 5000€ serão isentas da CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade), isto é na generalidade dos pensionistas da CGA (Caixa Geral de Aposentações) que forem atingidos pelo corte de 10% previsto no diploma que faz convergência entre o sistema público e privado de pensões ficará a salvo da contribuição extraordinária de solidariedade. O governo mantém o CES entre 3,5 e 10% para pensões acima dos 1350€. Nas pensões de sobrevivência com penalização para rendimentos a partir dos 2000€, irá afectar cerca de 25 mil pessoas, ou seja 96% dos pensionistas desta categoria não irá sofrer qualquer corte. Suspensão de pensões vitalícias para ex-políticos com rendimentos acima dos 2000€. O subsídio de Natal será em duodécimos, funcionários públicos e pensionistas receberam em fracções. Imposto de circulação do sobe 1% (selo do carro fica mais caro), bem como a taxa adicional para o gasóleo, onde os veículos a diesel vão pagar mais impostos. A idade de reforma sobe para os 66 anos de idade, Porém, nada destes cortes estavam referidos pelo doutor Paulo Portas até à data de apresentação do orçamento, excepto a questão das pensões de sobrevivência.

Todo este esforço imposto aos portugueses deve-se ao facto do nosso governo querer ser considerado perante a Troika, “o bom aluno” mas, esquece-se que do ponto de vista fiscal não está a ser equitativo, igualitário, nem compreensivo. Porque cada vez mais abafa a classe média, a taxa de desemprego subiu para os 17,7% e contribui para quase 3 milhões de pobres em Portugal. Neste momento, o nosso défice fixou-se nos 5,9% e como foi acordado com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para 2014, o nosso défice teria que chegar aos 5,5%. Portanto compreende-se de certa forma o peso brutal do Estado face aos funcionários públicos e os pensionistas, mas não se compreende como e porquê de serem sempre os mesmos a pagar a crise.

Contudo, cada vez mais a esperança para muitos em Portugal está perdida, chega-se à conclusão de que será melhor procurar ou tentar uma vida mais próspera para além das fronteiras, ou seja estamos a hipotecar uma geração onde se investiu o nosso dinheiro em formação e exportamos esta riqueza assim sem mais nem menos. Quando os senhores ministros estão a elaborar o nosso Orçamento do Estado, deviam repensar num plano estratégico a longo prazo e não querer só apenas “tapar” buracos ou simplesmente fazer um orçamento sem conta, peso e medida. Nas GOP’s (As Grandes Opções do Plano), fala-se de que não há uma visão nem ideia do que se quer para o futuro, o nosso orçamento do Estado é plurianual, isto é abrange um quadro estratégico de quatro anos, incluindo 2014, sendo assim para 2014, 2015, 2016 e 2017. Portanto, eu pergunto-me como é que ainda ninguém se lembrou de elaborar um plano estratégico delineado visto que os fins do orçamento são para isso mesmo?


Para concluir, o economista José Gomes Ferreira refere que neste pacote de austeridade consegue-se abranger alguns sectores que estariam de certa forma quase isentos de impostos, nomeadamente os fundos imobiliários ligados aos sector financeiro, para ele seria uma vergonha que não pagassem de igual forma, bem como na contribuição directa da área da electricidade, vão cortar directamente 100 milhões para o orçamento do Estado. 


André Henrique Rodrigues
211109


Fontes:


Calendário das simulações representativas

24 de Outubro (Abstenção e reformas políticas e eleitorais)
31 de Outubro (O Olhar das regiões) (Terrorismos)
7 de Novembro (CDS) (Comentadores)
14 de Novembro (PCP) (Associações patronais e poder financeiro)
21 de Novembro (CGTP) (UGT)
28 de Novembro (Bloco de Esquerda) (Verdes e outros ecologistas)
5 de Dezembro (PSD) (Extrema-direita e extremas-esquerdas)
12 de Dezembro (PS) (Movimentos sociais)
19 de Dezembro (Igrejas) (Maçonarias e movimentos filosóficos)

O Professor


PSD

Passos Coelho e o governo

        

A passada semana ficou inevitavelmente marcada pela entrevista do primeiro-ministro, seja pelo formato inovador da mesma seja pelas respostas dadas por Pedro Passos Coelho. Esta entrevista tratou-se da estreia do programa da RTP “O País Pergunta”, consistindo na oportunidade de vinte cidadãos seleccionados colocarem questões ao chefe do governo sobre matérias concretas da actualidade política nacional. Neste formato nunca antes visto em Portugal, parece pertinente frisar, transcrevendo, pelo menos três ideias importantes deixadas pelo primeiro-ministro:

1º.         “Quem está a suportar o peso todo desta crise é justamente a classe média e aqueles que têm maiores rendimentos. O que eu espero, com honestidade, é que até ao final do primeiro semestre do próximo ano este período de emergência que estamos a viver possa ser encerrado e nós possamos retornar a um caminho de crescimento que seja melhor do que aquele que tivemos nos passado” (defendendo que o governo tem resguardado os cidadãos com menores rendimentos e voltando a apontar uma nova data para o fim da crise bem como para o consequente início da recuperação económica)

2º.         “Estão praticamente concluídas as negociações que permitirão que neste orçamento – no orçamento rectificativo que será apresentado ainda para este ano – que ainda sejam introduzidas essas novas condições condições de competitividade fiscal” (anunciando um segundo orçamento rectificativo para o ano de 2013 em resposta a uma pergunta em torno do Centro Internacional de Negócios da Madeira)

3º.         “Não é fácil a um Governo conduzir as políticas que este teve de conduzir e enfrentar a contestação que nós enfrentámos, mas o que posso dizer é que desde o início senti um peso da responsabilidade muito grande que é este: se eu falhar a minha missão, é o país inteiro que falha” (reiterando confiança no trabalho do seu governo, mesmo depois da crise política decorrente das demissões de Vitor Gaspar e Paulo Portas)

Na sequência desta entrevista, o PSD veio de pronto enaltecer a postura demonstrada por Pedro Passos Coelho na resposta a todas as perguntas colocadas. Coube à deputada social-democrata Francisca Almeida esse papel, realçando que “foram perguntadas questões que cobriram as várias áreas de governação, perguntas muito concretas e específicas. O primeiro-ministro manifestou um conhecimento e domínio muito grande de todos os dossiês da governação”. Para além disso, é convicção do partido que o líder do governo demonstrou uma “preocupação muito particular com questões sociais” e, também, com o objectivo do executivo em “viabilizar Portugal enquanto país”, comprovando que Passos Coelho foi “frontal, directo e sério”.

Efectivamente esta é a posição geral assumida pelo PSD quanto ao desempenho do governo, isto é, um apoio constante às medidas implementadas pelo mesmo ou não fosse este um governo suportado pela maioria parlamentar PSD/CDS. Dois exemplos disso foram as recentes declarações do deputado Paulo Batista Santos e da deputada Teresa Leal Coelho: numa declaração política no plenário da Assembleia da República, Paulo Batista Santos rejeitou aquilo que apelidou de falácia sobre a acusação de que o governo apenas se preocupa com metas financeiras que o próprio estabelece e acaba, invariavelmente, por falhar, preferindo realçar que “Portugal está definitivamente a mudar de vida, a recuperar a sua credibilidade externa e como ainda esta semana várias entidades e fundos de investimentos internacionais o confirmaram, a economia portuguesa regista sinais claros de recuperação”; no que a Teresa Leal Coelho diz respeito, a vice-presidente da bancada social democrata veio a público “defender” o primeiro-ministro quanto a uma possivel pretensão do seu governo em cortar as subvenções vitalícias dos políticos, relembrando que Passos Coelho “foi dos poucos políticos que renunciou à subvenção vitalícia. É talvez um dos poucos políticos que tem legitimidade para propor esta medida”.

Não restando qualquer tipo de dúvidas no que toca ao apoio incondicional do PSD ao governo liderado por Passos Coelho, ainda assim, a verdade é que várias são as vozes de contestação que se levantam dentro do partido. Alguns notáveis do partido como Manuel Ferreira Leite, Ângelo Correia ou Luís Marques Mendes vieram recentemente criticar o governo, situação que se vem repetindo com frequência. Ferreira Leite explicou que “é opinião unânime que o êxito das mudanças necessárias num processo desta natureza assenta na compreensão da sua necessidade, na estratégia para a sua concretização, na clareza dos meios utilizados, na definição inequívoca dos seus objectivos e na percepção dos seus resultados. Só assim serão aceites pelos cidadãos que se sentirão envolvidos e empolgados para o processo de mudança”, acrescentando de seguida que não encontra no governo essa preocupação “nem nas decisões mais gravosas que têm sido tomadas”. Terminou esta linha de ideias afirmando que “não percebo a estratégia e muito menos o que se espera encontrar no fim de ela ser aplicada”.

Já Ângelo Correia insurgiu-se depois de conhecida a possibilidade de o governo avançar com o corte das pensões vitalícias dos políticos, considerando que “cortar tudo é demagogia completa. Há pessoas que não têm outros meios de subsistência. Conheço vários casos”. Por fim, Marques Mendes, quando colocada a questão dos cortes nas pensões de sobrevivência, defendeu que o governo voltou a perder a coordenação. No seu entender, “parece um governo de adolescentes, de gente imatura. Isto é mau porque sempre que a economia melhora, a política piora”, existindo muito ruído à volta que é mau para a economia porque não deixa passar nem uma mensagem nem um ambiente de confiança.

 

Rúben Guerreiro

17 / 10 / 2013

 

Fontes:

 

·         09-10-2013 + http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2013/10/09/passos-coelho-espera-que-o-periodo-de-emergencia-termine-ate-junho-de-2014, consultado dia 11-10-2013 às 17 horas.

 

·         09-10-2013 + http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=661171, consultado dia 12-10-2013 às 10 horas.

 

·         10-10-2013 + http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=27&did=125141, consultado dia 12-10-2013 às 16 horas.

 

·         10-10-2013 + http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=661219, consultado dia 13-10-2013 às 11 horas.

 

·         09-10-2013 + http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=661121, consultado dia 13-10-2013 às 18 horas.

 

·         10-10-2013 + http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=661349, consultado dia 14-10-2013 às 22 horas.

 

·         10-10-2013 + http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=87684, consultado dia 15-10-2013 às 9 horas.

 

·         11-10-2013 + http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=87780, consultado dia 15-10-2013 às 22 horas.

 

·         12-10-2013 + http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=1&did=125506, consultado dia 16-10-2013 às 19 horas.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Nova vaga de austeridade

O futuro dos portugueses mantém-se nas mãos dos credores internacionais. Novas medidas de austeridade assombram a vida de milhares

O Orçamento de Estado para 2014 corre o risco de novo chumbo no Tribunal Constitucional. O aumento da idade de reforma, o reforço de impostos e os cortes nas pensões e salários da função pública são algumas medidas que constam neste documento. Uma semana depois do primeiro-ministro ter respondido a 20 perguntas dos portugueses e de ter apelado à consciência das dificuldades vividas por milhares, este orçamento acaba por sair à rua com cruéis medidas de austeridade.

O aumento da idade da reforma para os 66 anos e a sua dependência com a evolução da esperança média de vida portuguesa é uma das medidas apresentadas pelo Governo. “Quem se reformar ao longo de 2014 terá de trabalhar “mais 12 meses para além dos 65 anos para compensar a redução do montante das pensões em resultado da aplicação do novo factor de sustentabilidade de 12%”, mostra o relatório que acompanha a proposta de Lei do OE para 2014.

De mãos dadas com estes sucessivos cortes está o aumento dos encargos com subsídios de desemprego para 1,2% enquanto as subvenções dos políticos ficam suspensas para quem tem outros rendimentos superiores a 2000 euros. Para além disso, no próximo ano, os trabalhadores do Estado e os pensionistas da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança Social  vão continuar a receber o subsídio de Natal em duodécimos. Ao nível dos impostos, a nova realidade marca o aumento do preço dos combustíveis, dos encargos das empresas com carros de serviço até 35%, no sector energético e nas bebidas espirituosas. Já o IVA  no sector da restauração não sofrerá aumentos. 

Os cortes milionários no OE afectam também a Administração Interna, o Ensino e o Sistema Nacional de Saúde. Com contenção de despesa na ordem dos 300 milhões de euros e com aumento das taxas moderadoras, a saúde torna-se um dos sectores fundamentais mais comprometido. 3900 milhões é o novo valor a poupar para o próximo ano.

Hoje, em declarações políticas na Assembleia da República, Heloísa Apolónia dirige-se a Paulo Portas e afirma que o mesmo perdeu credibilidade quando disse que era irrevogável a sua demissão. A mesma falta de credibilidade junto dos membros do Governo vai igualmente para Vítor Gaspar ou Miguel Relvas. Acrescenta que “um governo sem palavra é, de facto, perante isso que estamos em Portugal. E, mais grave, um governo que prossegue num caminho que não dá resultado e que lapida a vida concreta dos portugueses”.¹

Para além disso, pede esclarecimentos sobre o Orçamento de Estado para 2014 e acusa o orçamento como "arrasador para o país, os portugueses e os seus autores”. O PSD e CDS, por sua vez, demonstram que são “absolutamente perigosos para o país, por via das inúmeras medidas medonhas que tem tomado desde que assumiu funções". Para a deputada portuguesa em representação do partido “Os Verdes”, as medidas do OE “vão levar ao alargamento da bolsa de pobreza em Portugal, pobreza que se está a tornar estrutural" e que estas não estão “viradas para o crescimento económico”.²

De seguida, acusa o Governo de fazer recair a maioria do esforço nos cidadãos concretos - mais de 85% - em detrimento do esforço que pede ao grande poder financeiro e económico, que não chega aos 5%.³
 
Apela ainda à participação na manifestação de 19 de Outubro marcada pela CGTP e à participação na greve de 8 de Novembro, convocada pela Frente Comum para que “o Governo perceba que não são fantoches os funcionários públicos, que são gente com vida, família e dignidade concretas: "É dignidade que este país reclama!"

E 2014 poderá não ser o último ano de austeridade.

Adriana Correia
Fontes:

Sic Notícias, TVI24, RTP1

 

² https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=afM8ZhurNTI