A
última semana de António Costa, mais calma como seria de adivinhar depois de
vencidas as eleições, teve o seu ponto alto no discurso de tomada de posse, pondo
a tónica na necessária e incontornável descentralização.
O autarca contou com o apoio de José
Sócrates, Mário Soares (sendo que estes tiveram oportunidade de tirar uma
fotografia com o vencedor tendo depois abandonada o local). Já nas primeiras
filas estavam proeminentes figuras socialistas como Jorge Sampaio, António
Vitorino, Jaime Gama e ainda ferro Rodrigues. Contudo, António José Seguro não
compareceu devido a compromissos, segundo fonte do partido.
Na sua rubrica semanal este sábado
na TVI, Luís Marques Mendes aproveitou para afirmar que Seguro errou em faltar
a esta tomada de posse, preferindo deslocar-se até ao Funchal para apoiar a
coligação vencedora em que o PS se insere. A partir destes comportamentos de
Seguro, Marques Mendes consegue concluir que António José Seguro “tem sempre
algum incómodo, ou com José Sócrates, ou com António Costa, devendo esquecer
isso em favor do profissionalismo”. Desta forma, a liderança de Seguro parece
não só ser abalada por facções internas do PS mas, e como seria de esperar,
pelas forças da oposição que tentam enfraquecer a sua posição.1
Passando ao discurso, Costa começou
por agradecer a reeleição e a maioria tanto no executivo como na assembleia
municipal mas reforçou a ideia de que maioria não poder absoluto, mostrando
abertura a ligações com outros partidos e vontade de colaborar.2
“A
descentralização devia ser a verdadeira pedra angular de uma reforma do Estado
assente na eficiência, na desburocratização, na simplificação, na modernização,
na participação, transparência e proximidade dos cidadãos”.3
É
com estas palavras que Costa defende que as competências pertencentes ao Estado
devem voltar “a seu dono” – as regiões, as câmaras, as freguesias, as
autarquias – e ela deve ser o mote da construção de autarquias com competências
e meios próprios onde haja também órgãos eleitos pelos cidadãos “que expressem,
sem distorções artificiosas, a efectiva e legitima vontade popular”.4
Esta descentralização deveria, segundo Costa,
incidir principalmente sobre as áreas metropolitanas, as que deveriam deter o
monopólio de gestão dos seus transportes públicos, e deveria sobretudo romper o
“imobilismo” a que as autarquias estão confinadas, tirando algumas competências
ao Estado e passando a ser estas mesmas a desempenhá-las pois acredita que, se
assim for, será feita uma muito melhor gestão pois têm sido as autarquias que
“mais têm contribuído para diminuir o défice e a dívida”5 pois
são as autarquias que, actuando no terreno e conhecendo melhor as suas
potencialidades poderão atrair mais investimento.
Costa reiterou uma temática anteriormente defendida aquando do
discurso do 5 de Outubro: cooperação nacional suprapartidária. Assim, explicou
que a presença de Rui Moreira no evento significa um sinal da “importância
atribuída à cooperação entre Porto e Lisboa”, sendo que ambos têm “um dever
conjunto para com o país”.6
Esta presença é importante porque Moreira é um independente e
uma das grandes figuras das últimas eleições, e na medida em que constitui uma
forma de protesto contra o Governo, pois vê em Rui Moreira um aliado para levar
uma luta autárquica pela descentralização, e funciona ainda como uma afirmação
de responsabilidade e maturidade política por parte de Costa que se afirma uma
vez mais como um política que vive “para” a política e que, principalmente,
está mais interessado no interesse nacional pois uma das questões fundamentais
“é que temos de dar as mãos (…) para que possamos levar o país para a frente”.7
Desta forma Costa aproveita para criticar, mais uma vez, a
“mesquinhez” dos partidos que não conseguem entender-se e que põem os seus
interesses e a sua sobrevivência à frente do interesse nacional, incluindo o
PS, e que continuam presos à “mediocridade do aparelho”.8
Quanto ao PS,
mais uma vez “veio a lume” a questão das alas e facções internas, nomeadamente
a ala socrática, que Pacheco Pereira afirmou ser “mais pequena que a de Costa”.9 A verdade é que durante
esta semana a ala socrática e costista celebrou, não apenas nesta tomada de
posse mas ainda pelo bom momento que Sócrates atravessa, parecendo conquistar
de novo a opinião pública e apresentando o seu novo livro. Parece então que
estas alas conseguem ter maior protagonismo e carisma que a própria liderança
de Seguro.
António Costa encara a liderança de
Sócrates como uma liderança de extremos em termos de opinião pública: “uns
amam, outros detestam a liderança”.10Assim,
a ligação entre os dois políticos parece continuar de boa saúde, o que, como
dizia Marque Mendes, causa um natural desconforto ao líder actual do PS e, como
consequência destas afirmações surgiu a questão das presidenciais, com Costa a
crer que Santana Lopes será o grande candidato da direita à Presidência da
República em 2015.11
Por
último, e sendo impossível de ignorar recentes mudanças na bancada parlamentar
socialista, verifica-se que foram escolhidas para o cargo de vice-presidente figuras
próximas da ala socrática, como Alberto Martins, o novo líder da bancada e
anterior líder no Governo de Sócrates, mas que apesar desta proximidade é menos
vulnerável “às sensibilidades do PS” e mais consensual; Catarina Mendes; Marcos
Perestrello e ainda Pedro Nuno Santos, grande crítico da direcção actual. Desta
forma, pode concluir-se que a estratégia de Seguro poderá ter duas vias: ou a
“integração da ala de Costa para fortalecimento da liderança do partido ou para
demonstrar que a mesma não recua perante ameaças internas; ou então a
prossecução da velha máxima “mantém os teus amigos por perto, e os inimigos
mais perto ainda”.
Joana Lemos
Fontes
1 Noticiário
TVI,26 Out 2013
Outras
fontes: