quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A consensualidade de António Costa e a falta de consenso interno


Cada vez mais consensual. Assim aparece António Costa, em jeito sebastianista, por entre as densas brumas da discórdia que pairam sobre os dois grandes partidos do poder. Tanto PS como PSD comprometem a estabilidade numa altura em que todo o cuidado é pouco e Costa afirma mais uma vez, e desta feita no programa Quadratura do Circulo, que é necessário um acordo com o PS e que o argumento se entrou no fim de um ciclo não pode ser tido em conta porque só trará mais riscos se não houver um acordo sobre um programa cautelar.
“O ministro estava com um ar tranquilo mas foi muito pouco tranquilizador” disse António Costa acerca da entrevista que o Primeiro-Ministro deu na última quinta-feira.
Costa retoma a sua visão mais ampla que tem vindo a adoptar desde que venceu as eleições autárquicas preocupando-se com as grandes arenas da política e parecendo desdenhar cada vez mais as pequenas quezílias que nada acrescentam para a criação de uma solução sólida e consensual. Afirmou que estes programas que têm sido aplicados por toda a Europa provaram ser completamente ineficazes e que têm tido mais consequências nefastas que positivas sobre as economias europeias.
Para Costa “o liberalismo é apenas uma moda académica e uma doutrina que influenciou o desenho destes programas” que espalharam uma verdadeira peste de austeridade pelos Estados. Tal como a peste negra, a peste imposta pela troika apoderou-se de Portugal mais do que uma vez, visto que esta é já a terceira intervenção operada em Portugal.
Tal como se tratava esta doença, foi de imediato comunicada às autoridades e os Estados-membros postos em quarentena, sendo de evitar qualquer contacto económico e tratados como párias sociais que apenas prejudicam a saúde económico-financeira dos restantes Estados desta Europa tão solidária.
Ainda assim, algumas retomas económicas positivas foram consideradas, e actualmente, por mais pequena que a esmola seja o pobre não desconfia, e o governo até rejubila. Para o PS de Seguro foi uma pequena prenda que permitiu disfarçar a pouca vontade em não fazer acordos com o PSD, Mas Costa afirma que acordos terão que, inevitavelmente, ser feitos pois esta estrutura económica tão debilitada precisará de cerca de uma década para recuperar um pouco do seu esplendor de velhos tempos.
Tal não é possível levar a cabo com políticas de empobrecimento, afirmou o próprio, mas sim com uma estratégia de qualificação que aumente a competitividade portuguesa no contexto europeu. E mais, é necessário o acordo entre partidos numa altura em que será aplicado o novo quadro comunitário que Portugal ainda não assinou pois não sabe como alocar os montantes e para onde os alocar, sendo que é neste programa que um entendimento sério seria preciso para que, com as aparentes e inevitáveis mudanças de governo já em 2015 o plano continuasse a ser aplicado de forma consistente visto que passarão por este quadro comunitário 3 legislaturas.
Após uma provocação de Pacheco Pereira que afirmou que o actual PS não faz mais do que apenas aprovar ou abster-se sobre medidas submetidas a votação, arredando pé do discurso ao povo e da responsabilização política, Costa faz uma pequena pausa sem responder, passando de novo ao discurso comunitário, dando sempre a entender que Portugal tem de ter uma posição mais assertiva em relação à Europa e aos grandes poderes europeus.
“Temos de passar da divergência política interna para a compreensão sistémica da Europa” porque só assim se consegue fortalecer Portugal perante outros Estados e porque só assim conseguiremos perceber que “a estrutura da união económica e monetária está organizada de forma fatal para países como Portugal e só funciona para países como a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Finlândia”. Portugal não pode continuar a brincar aos políticos sujeitando-se a poderes superiores sem se aperceber que essa é a tendência actual que actua de forma pouco discreta sobre os governos democráticos subjugados ao mercado, sendo um exemplo dramático o sempre forte sistema político francês que acabou por cair nesta situação.
“O poder efectivo é retirado ao jogo democrático para ficar submetido ao jogo dos mercados” como afirmou, dizendo ainda que devíamos estar todos horrorizados ao invés de passivos enquanto nos retiram o poder das mãos e que não devemos deixar que a visão de Miguel Frasquilho de que “os técnicos é que mandavam, vem de trás, não é de agora” não deixa mais que o povo português aceite esta situação como um “fado” ou algo inevitável.
É aqui que o PS deve entrar e batalhar para ser o partido de charneira, na criação de uma união entre os portugueses. No entanto, tal parece não suceder pela “ausência da direcção do Partido Socialista” como criticou a ex-Ministra da Educação e assumida apoiante de Costa – Maria de Lurdes Rodrigues.
Esta é uma das primeiras vozes que afirma de forma veemente e sem qualquer medo de represálias internas ou de repercussões extremas, que António Costa seria uma alternativa à liderança do PS mais credível e mais eficiente que a actual. Tudo porque, e apesar de “não gostar de fulanizar”, vê alguma ausência do PS e da sua direcção em momentos críticos e decisivos e porque por alguma razão o líder se abstém de não diz o que realmente pensa sobre os problemas pelos quais os portugueses passam.
Pelo facto de não se apresentar como uma alternativa, de ter uma liderança e uma oposição muito frágil e aparentemente desorientada, por não levantar questões essenciais e por não se perceber bem se o silêncio resulta de uma ausência de programa alternativo ou se de pura estratégia afirma que António Costa seria um melhor líder, não apenas pela sua capacidade de liderança, como também pelo seu poder de afirmação explícita, por dizer de forma clara o que pensa e pelo seu poder de concretização e de iniciativa que tornaria o partido mais dinâmico e forte enquanto oposição.
Pensando agora sobre a luta interna nos partidos, nomeadamente nos partidos de esquerda, ela é necessária e não pode ser evitada pois a interdição de críticas ou opiniões contrárias revela o seu carácter democrático e necessário no contexto actual.
As lutas internas resultam sobretudo de lutas ideológicas e lutas por questões de princípios, e no Partido Socialistas essas são evidentes, entre os mais moderados e os mais à esquerda, que podem então resultar em grandes cisões partidárias que ameaçam a estabilidade, a credibilidade e a própria sobrevivência de um partido.
Passando para a notícia do dia, o Partido Socialista, de pois de alguns avanços e recuos, chegou a um acordo com o Partido Social-Democrata acerca da questão do IRC. É conhecido que, internamente, existe uma massa opositora constituída por muitos membros do PS que não dão o seu aval a esta política de acordos e de consensos com uma governo que pensam estar a levar o país à ruína e cujas políticas não devem ser apoiadas pela sua falta de eficácia.
 Assim, existe a hipótese de a oposição interna avançar para a convocação de um congresso extraordinário, apenas 11 meses depois do último congresso em que António José Seguro foi eleito Secretário-Geral. Mas a que custo? Ainda que tal viesse a acontecer essa mesma oposição teria de ter em conta as consequências que poderiam advir da sua atitude e no regozijo que não daria ao PSD. Isto porque, num momento tão crítico como o actual, em que a Troika abandonará o país daqui a 6 meses, o PSD aproveitaria uma revolta e um golpe interno no PS para atacar o partido, acusando-o de instável e pouco qualificado para comandar os rumos do país já em 2015 se porventura ganhasse as eleições legislativas.
O PSD seria habilidoso e faria passar à opinião pública a ideia de que um PS desunido seria incapaz de governar o país e de manter uma estabilidade que assegurasse a implementação de um plano cautelar logo após a saída do FMI e a criação de soluções a longo prazo, descredibilizando o partido por completo e toda a facção da oposição que criasse a instabilidade.
 
                                                                                                      Joana Lemos
 
Fontes:
 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.