Cada
vez mais consensual. Assim aparece António Costa, em jeito sebastianista, por
entre as densas brumas da discórdia que pairam sobre os dois grandes partidos
do poder. Tanto PS como PSD comprometem a estabilidade numa altura em que todo
o cuidado é pouco e Costa afirma mais uma vez, e desta feita no programa
Quadratura do Circulo, que é necessário um acordo com o PS e que o argumento se
entrou no fim de um ciclo não pode ser tido em conta porque só trará mais
riscos se não houver um acordo sobre um programa cautelar.
“O
ministro estava com um ar tranquilo mas foi muito pouco tranquilizador” disse
António Costa acerca da entrevista que o Primeiro-Ministro deu na última
quinta-feira.
Costa
retoma a sua visão mais ampla que tem vindo a adoptar desde que venceu as
eleições autárquicas preocupando-se com as grandes arenas da política e
parecendo desdenhar cada vez mais as pequenas quezílias que nada acrescentam
para a criação de uma solução sólida e consensual. Afirmou que estes programas
que têm sido aplicados por toda a Europa provaram ser completamente ineficazes
e que têm tido mais consequências nefastas que positivas sobre as economias
europeias.
Para
Costa “o liberalismo é apenas uma moda académica e uma doutrina que influenciou
o desenho destes programas” que espalharam uma verdadeira peste de austeridade
pelos Estados. Tal como a peste negra, a peste imposta pela troika apoderou-se de Portugal mais do
que uma vez, visto que esta é já a terceira intervenção operada em Portugal.
Tal
como se tratava esta doença, foi de imediato comunicada às autoridades e os
Estados-membros postos em quarentena, sendo de evitar qualquer contacto
económico e tratados como párias sociais que apenas prejudicam a saúde
económico-financeira dos restantes Estados desta Europa tão solidária.
Ainda
assim, algumas retomas económicas positivas foram consideradas, e actualmente,
por mais pequena que a esmola seja o pobre não desconfia, e o governo até
rejubila. Para o PS de Seguro foi uma pequena prenda que permitiu disfarçar a
pouca vontade em não fazer acordos com o PSD, Mas Costa afirma que acordos
terão que, inevitavelmente, ser feitos pois esta estrutura económica tão
debilitada precisará de cerca de uma década para recuperar um pouco do seu
esplendor de velhos tempos.
Tal
não é possível levar a cabo com políticas de empobrecimento, afirmou o próprio,
mas sim com uma estratégia de qualificação que aumente a competitividade
portuguesa no contexto europeu. E mais, é necessário o acordo entre partidos
numa altura em que será aplicado o novo quadro comunitário que Portugal ainda
não assinou pois não sabe como alocar os montantes e para onde os alocar, sendo
que é neste programa que um entendimento sério seria preciso para que, com as
aparentes e inevitáveis mudanças de governo já em 2015 o plano continuasse a
ser aplicado de forma consistente visto que passarão por este quadro
comunitário 3 legislaturas.
Após
uma provocação de Pacheco Pereira que afirmou que o actual PS não faz mais do
que apenas aprovar ou abster-se sobre medidas submetidas a votação, arredando
pé do discurso ao povo e da responsabilização política, Costa faz uma pequena
pausa sem responder, passando de novo ao discurso comunitário, dando sempre a
entender que Portugal tem de ter uma posição mais assertiva em relação à Europa
e aos grandes poderes europeus.
“Temos
de passar da divergência política interna para a compreensão sistémica da
Europa” porque só assim se consegue fortalecer Portugal perante outros Estados
e porque só assim conseguiremos perceber que “a estrutura da união económica e
monetária está organizada de forma fatal para países como Portugal e só
funciona para países como a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Finlândia”.
Portugal não pode continuar a brincar aos políticos sujeitando-se a poderes
superiores sem se aperceber que essa é a tendência actual que actua de forma
pouco discreta sobre os governos democráticos subjugados ao mercado, sendo um
exemplo dramático o sempre forte sistema político francês que acabou por cair
nesta situação.
“O
poder efectivo é retirado ao jogo democrático para ficar submetido ao jogo dos
mercados” como afirmou, dizendo ainda que devíamos estar todos horrorizados ao
invés de passivos enquanto nos retiram o poder das mãos e que não devemos
deixar que a visão de Miguel Frasquilho de que “os técnicos é que mandavam, vem
de trás, não é de agora” não deixa mais que o povo português aceite esta
situação como um “fado” ou algo inevitável.
É
aqui que o PS deve entrar e batalhar para ser o partido de charneira, na
criação de uma união entre os portugueses. No entanto, tal parece não suceder
pela “ausência da direcção do Partido Socialista” como criticou a ex-Ministra
da Educação e assumida apoiante de Costa – Maria de Lurdes Rodrigues.
Esta
é uma das primeiras vozes que afirma de forma veemente e sem qualquer medo de
represálias internas ou de repercussões extremas, que António Costa seria uma
alternativa à liderança do PS mais credível e mais eficiente que a actual. Tudo
porque, e apesar de “não gostar de fulanizar”, vê alguma ausência do PS e da
sua direcção em momentos críticos e decisivos e porque por alguma razão o líder
se abstém de não diz o que realmente pensa sobre os problemas pelos quais os
portugueses passam.
Pelo
facto de não se apresentar como uma alternativa, de ter uma liderança e uma
oposição muito frágil e aparentemente desorientada, por não levantar questões
essenciais e por não se perceber bem se o silêncio resulta de uma ausência de
programa alternativo ou se de pura estratégia afirma que António Costa seria um
melhor líder, não apenas pela sua capacidade de liderança, como também pelo seu
poder de afirmação explícita, por dizer de forma clara o que pensa e pelo seu
poder de concretização e de iniciativa que tornaria o partido mais dinâmico e
forte enquanto oposição.
Pensando
agora sobre a luta interna nos partidos, nomeadamente nos partidos de esquerda,
ela é necessária e não pode ser evitada pois a interdição de críticas ou
opiniões contrárias revela o seu carácter democrático e necessário no contexto
actual.
As
lutas internas resultam sobretudo de lutas ideológicas e lutas por questões de
princípios, e no Partido Socialistas essas são evidentes, entre os mais
moderados e os mais à esquerda, que podem então resultar em grandes cisões
partidárias que ameaçam a estabilidade, a credibilidade e a própria
sobrevivência de um partido.
Passando
para a notícia do dia, o Partido Socialista, de pois de alguns avanços e recuos,
chegou a um acordo com o Partido Social-Democrata acerca da questão do IRC. É
conhecido que, internamente, existe uma massa opositora constituída por muitos
membros do PS que não dão o seu aval a esta política de acordos e de consensos
com uma governo que pensam estar a levar o país à ruína e cujas políticas não
devem ser apoiadas pela sua falta de eficácia.
O
PSD seria habilidoso e faria passar à opinião pública a ideia de que um PS
desunido seria incapaz de governar o país e de manter uma estabilidade que
assegurasse a implementação de um plano cautelar logo após a saída do FMI e a criação
de soluções a longo prazo, descredibilizando o partido por completo e toda a
facção da oposição que criasse a instabilidade.
Joana Lemos
Fontes:
- Sanches, Andreia e Reis, Bárbara, A direcção do PS seria outra coisa se tivéssemos António Costa", in Público, www.publico.pt ( http://www.publico.pt/sociedade/noticia/a-direccao-do-ps-seria-outra-coisa-se-tivessemos-antonio-costa-1616274)
- Programa "Quadratura do Círculo", dia 12 Dezembro 2013, Sic Notícias
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