Uma Obediência maçónica (pode coincidir com um
Estado ou em caso de cisões, coincidir com outra (s) dentro dele) abarca federativamente
mais do que um Rito, denominando-se assim de Grande Oriente. Foi o que aconteceu em Portugal, entre 1926 e 1935,
ondem coexistiram os Ritos Escocês,
Francês e Simbólico no Grande Oriente
Lusitano Unido, o Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa. A designação de
Grande Loja é adoptada quando todas as Lojas de uma Obediência praticam o mesmo
Rito.1
O
pilar da Maçonaria Portuguesa foi sempre o mesmo, o Grande Oriente Lusitano criado em 1802, com o seu primeiro
Grão-Mestre eleito em 1804. A sucessão desta posição foi sempre feita de forma
regular e ininterrupta desde o início até à actualidade. Entre os anos de 1849
a 1859, esta Obediência designava-se por Grande Oriente de Portugal, passando a
partir de 1869 a chamar-se de Grande Oriente
Lusitano Unido. Este marco representou, desde 1826 até a meados do século,
uma linha mais conservadora da Maçonaria, ligada inclusivamente à corrente
política do Cartismo (movimento de ideias de tendência conservadora que teve
como ponto de referência a Carta Constitucional, outorgada em 29 de Abril de
1826 por D. Pedro IV. Foi uma corrente ideológica, na qual se filiaram homens
como Mouzinho da Silveira, Costa Cabral e os duques da Terceira, de Saldanha e
de Palmela. Os Cartistas opunham-se aos Setembristas, que eram defensores da
Constituição de 1822 e representavam um liberalismo mais moderado) e sob a
orientação suprema de individualidades cartistas de relevo, como Costa Cabral e
Silva Carvalho. Este conservadorismo originou cisões no seio da Obediência, que
mais tarde corresponderam a correntes políticas que se formaram no liberalismo
e que disputaram o poder. O período que foi marcado por um maior
desentendimento entre a comunidade maçónica ocorreu entre 1849 e 1867, quando
coexistiram em Portugal entre cinco a sete Obediências maçónicas distintas:
Ø A
Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês;
Ø O
Oriente do Rito Escocês;
Ø O
Grande Oriente de Portugal;
Ø O
Grande Oriente Lusitano;
Ø A
Grande Loja Portuguesa;
Ø A
Confederação Maçónica;
Ø A
Federação Maçónica.2
Esta Obediência foi reconhecida pelo Grande
Oriente de França em Maio de 1804. Tem, actualmente, o maior número de
membros em Portugal e representa a Maçonaria Liberal no nosso Pais, sendo
também a mais antiga Obediência Maçónica Portuguesa.
Actualmente haverá no nosso País cerca de 2700 maçons, 1100 dos quais pertencem
ao Grande Oriente Lusitano.3 Esta instituição humanista
é um espaço de sociabilidade, onde os seus membros exprimem as diversas visões
que interiorizam e defendem na sua vida e nas suas actividades, em torno de
valores como o amor à Pátria, o respeito pelo Estado de Direito e pelo Estado
de Justiça, pela Liberdade, e ainda pela tolerância das diversas crenças e
opiniões. Rejeitam quaisquer fundamentalismos e apoiam a justiça social, a
solidariedade, a igualdade de oportunidades, uma conduta ética e social de
prevalência do interesse público sobre o interesse privado, enaltecendo o
mérito do trabalho manual e intelectual. Por isso mesmo, por ser um centro de
união de pessoas de todos os pensares, é que, por respeito a cada um, não
assume, por princípio, intervenções públicas. A não ser que, excepcionalmente
estejam em causa valores que lhe são basilares, como a Liberdade, que não estão
imunes a ameaças na Europa em geral e em Portugal em particular. As declarações
dos Direitos do Homem, incluindo a Convenção Europeia e os direitos
constitucionalmente avançados, nomeadamente quanto às mulheres, relembram que a
dignidade é fundamental para o ser humano e visam prevenir qualquer forma de
atentado à integridade física e mental, opressão ou discriminação. O reconhecimento
da dignidade de todos os membros da família humana e dos seus direitos constituem
os fundamentos da Liberdade, da Justiça e da Paz. Esta Obediência apela a toda
sociedade civil, forças políticas, morais e filosóficas que, num acto de
cidadania activa e no espaço público, debatam e cooperem para que os rumos de
Portugal e da Europa salvaguardem o que de mais importante existe: a dignidade
humana.
Os Maçons membros do Grande Oriente
Lusitano são livres para levar a cabo quaisquer tipos de intervenções na esfera
pública guiados pelos valores de referência desta organização.4
O Grande Oriente Lusitano
conheceu ao longo da sua história, algumas das grandes mudanças que marcaram os
séculos XIX e XX e que tiveram uma forte influência na acção da Maçonaria como:
a Revolução Liberal de 1820; a Abolição da pena de morte; a Implantação da
República e o subsequente período do Estado Novo. Durante a época ditatorial,
esta Obediência atravessou momentos de ferozes perseguições pelas alas mais
conservadoras e reaccionárias da sociedade. Entre esses momentos destaca-se a
repressão durante o Estado Novo (através da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de
1935, proposta por José Cabral) que forçou os seus membros à clandestinidade e
os levou, muitas vezes, à prisão ou ao exílio político. Durante o período de clandestinidade,
o Grande Oriente Lusitano viu os seus bens confiscados e o Palácio Maçónico
ocupado pela Legião Portuguesa. Com a revolução de 25 de Abril de 1974 e a
revogação da Lei n.º 1901, a Obediência pôde voltar à luz do dia, tendo-lhe
sido devolvidos os seus bens anteriormente confiscados. Entre os seus membros
contam-se figuras de grande relevo no panorama nacional. Desde 2011 que o
actual Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano é Fernando Lima, que sucedeu a
António Reis. Na Maçonaria este cargo é o mais alto representante de uma
Potência, Grande Loja ou Obediência Maçónica. A expressão Grão-Mestre é
traduzida por Maçons como grande mestre, ou seja, aquele que é responsável pela
direção de uma potência maçónica. Este não tem de ter crença religiosa definida
e está exclusivamente ao serviço dos Maçons, da Obediência a que pertence e da
Maçonaria.5
Ana Cristina Santos
Fontes:
1-
MARQUES, A.H. DE
OLIVEIRA – A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo.
Publicações Dom Quixote 1975.
Consultado a 22 de Novembro, pelas 16h
2- Idem
3-
Diário de Notícias.
Grande Oriente Lusitano. Acedido em http://www.dn.pt, no dia 22 de Novembro de
2013, pelas 17h
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