domingo, 24 de novembro de 2013

O Grande Oriente Lusitano



        Uma Obediência maçónica (pode coincidir com um Estado ou em caso de cisões, coincidir com outra (s) dentro dele) abarca federativamente mais do que um Rito, denominando-se assim de Grande Oriente. Foi o que aconteceu em Portugal, entre 1926 e 1935, ondem coexistiram os Ritos Escocês, Francês e Simbólico no Grande Oriente Lusitano Unido, o Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa. A designação de Grande Loja é adoptada quando todas as Lojas de uma Obediência praticam o mesmo Rito.1

            O pilar da Maçonaria Portuguesa foi sempre o mesmo, o Grande Oriente Lusitano criado em 1802, com o seu primeiro Grão-Mestre eleito em 1804. A sucessão desta posição foi sempre feita de forma regular e ininterrupta desde o início até à actualidade. Entre os anos de 1849 a 1859, esta Obediência designava-se por Grande Oriente de Portugal, passando a partir de 1869 a chamar-se de Grande Oriente Lusitano Unido. Este marco representou, desde 1826 até a meados do século, uma linha mais conservadora da Maçonaria, ligada inclusivamente à corrente política do Cartismo (movimento de ideias de tendência conservadora que teve como ponto de referência a Carta Constitucional, outorgada em 29 de Abril de 1826 por D. Pedro IV. Foi uma corrente ideológica, na qual se filiaram homens como Mouzinho da Silveira, Costa Cabral e os duques da Terceira, de Saldanha e de Palmela. Os Cartistas opunham-se aos Setembristas, que eram defensores da Constituição de 1822 e representavam um liberalismo mais moderado) e sob a orientação suprema de individualidades cartistas de relevo, como Costa Cabral e Silva Carvalho. Este conservadorismo originou cisões no seio da Obediência, que mais tarde corresponderam a correntes políticas que se formaram no liberalismo e que disputaram o poder. O período que foi marcado por um maior desentendimento entre a comunidade maçónica ocorreu entre 1849 e 1867, quando coexistiram em Portugal entre cinco a sete Obediências maçónicas distintas:

Ø  A Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês;

Ø  O Oriente do Rito Escocês;

Ø  O Grande Oriente de Portugal;

Ø  O Grande Oriente Lusitano;

Ø  A Grande Loja Portuguesa;

Ø  A Confederação Maçónica;

Ø  A Federação Maçónica.2

   Esta Obediência foi reconhecida pelo Grande Oriente de França em Maio de 1804. Tem, actualmente, o maior número de membros em Portugal e representa a Maçonaria Liberal no nosso Pais, sendo também a mais antiga Obediência Maçónica Portuguesa. Actualmente haverá no nosso País cerca de 2700 maçons, 1100 dos quais pertencem ao Grande Oriente Lusitano.3 Esta instituição humanista é um espaço de sociabilidade, onde os seus membros exprimem as diversas visões que interiorizam e defendem na sua vida e nas suas actividades, em torno de valores como o amor à Pátria, o respeito pelo Estado de Direito e pelo Estado de Justiça, pela Liberdade, e ainda pela tolerância das diversas crenças e opiniões. Rejeitam quaisquer fundamentalismos e apoiam a justiça social, a solidariedade, a igualdade de oportunidades, uma conduta ética e social de prevalência do interesse público sobre o interesse privado, enaltecendo o mérito do trabalho manual e intelectual. Por isso mesmo, por ser um centro de união de pessoas de todos os pensares, é que, por respeito a cada um, não assume, por princípio, intervenções públicas. A não ser que, excepcionalmente estejam em causa valores que lhe são basilares, como a Liberdade, que não estão imunes a ameaças na Europa em geral e em Portugal em particular. As declarações dos Direitos do Homem, incluindo a Convenção Europeia e os direitos constitucionalmente avançados, nomeadamente quanto às mulheres, relembram que a dignidade é fundamental para o ser humano e visam prevenir qualquer forma de atentado à integridade física e mental, opressão ou discriminação. O reconhecimento da dignidade de todos os membros da família humana e dos seus direitos constituem os fundamentos da Liberdade, da Justiça e da Paz. Esta Obediência apela a toda sociedade civil, forças políticas, morais e filosóficas que, num acto de cidadania activa e no espaço público, debatam e cooperem para que os rumos de Portugal e da Europa salvaguardem o que de mais importante existe: a dignidade humana.

Os Maçons membros do Grande Oriente Lusitano são livres para levar a cabo quaisquer tipos de intervenções na esfera pública guiados pelos valores de referência desta organização.4

  O Grande Oriente Lusitano conheceu ao longo da sua história, algumas das grandes mudanças que marcaram os séculos XIX e XX e que tiveram uma forte influência na acção da Maçonaria como: a Revolução Liberal de 1820; a Abolição da pena de morte; a Implantação da República e o subsequente período do Estado Novo. Durante a época ditatorial, esta Obediência atravessou momentos de ferozes perseguições pelas alas mais conservadoras e reaccionárias da sociedade. Entre esses momentos destaca-se a repressão durante o Estado Novo (através da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935, proposta por José Cabral) que forçou os seus membros à clandestinidade e os levou, muitas vezes, à prisão ou ao exílio político. Durante o período de clandestinidade, o Grande Oriente Lusitano viu os seus bens confiscados e o Palácio Maçónico ocupado pela Legião Portuguesa. Com a revolução de 25 de Abril de 1974 e a revogação da Lei n.º 1901, a Obediência pôde voltar à luz do dia, tendo-lhe sido devolvidos os seus bens anteriormente confiscados. Entre os seus membros contam-se figuras de grande relevo no panorama nacional. Desde 2011 que o actual Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano é Fernando Lima, que sucedeu a António Reis. Na Maçonaria este cargo é o mais alto representante de uma Potência, Grande Loja ou Obediência Maçónica. A expressão Grão-Mestre é traduzida por Maçons como grande mestre, ou seja, aquele que é responsável pela direção de uma potência maçónica. Este não tem de ter crença religiosa definida e está exclusivamente ao serviço dos Maçons, da Obediência a que pertence e da Maçonaria.5

Ana Cristina Santos

 

Fontes:

 1-        MARQUES, A.H. DE OLIVEIRA – A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo.

           Publicações Dom Quixote 1975. Consultado a 22 de Novembro, pelas 16h

            2-        Idem

3-        Diário de Notícias. Grande Oriente Lusitano. Acedido em http://www.dn.pt, no dia 22 de Novembro de 2013, pelas 17h

           4-        Grande Oriente Lusitano. Maçonaria Portuguesa. Acedido em http://www.gremiolusitano.pt e http://www.gol.pt, no dia 22 de Novembro de 2013, pelas 19h

 5-        Idem

 

                                    

 

 

 

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