Na passada semana, a análise
realizada à campanha autárquica apontava para o facto de existir uma tendência
clara dos discursos políticos, principalmente dos líderes partidários, se
centrarem no plano nacional e não tanto local, situação esta que transportava
estas Eleições Autárquicas para um patamar de importância superior. Superior
porque, para além das escolhas locais que os cidadãos iriam fazer, o voto no
dia 29 de Setembro podia-se revestir numa tomada de posição quanto à política
seguida pelo governo e, nesse caso, o PSD teria uma dificuldade adicional em
alcançar um resultado autárquico positivo. E as piores previsões
concretizaram-se, o PSD registou uma expressiva derrota eleitoral que se
traduziu no pior resultado de sempre deste partido em eleições autárquicas.
O
próprio líder do partido, Pedro Passos Coelho, o reconheceu algumas horas após
o fecho das urnas, dizendo que, para além de uma derrota eleitoral nacional, “o
PSD registou um dos seus piores resultados”. Antes disso, Passos Coelho havia
reiterado que estávamos perante umas eleições autárquicas e não nacionais,
porém, admitiu que “evidentemente há sempre leituras nacionais a fazer de
eleições autárquicas”. Tendo em conta que o PSD tinha colocado como objectivo
ganhar estas eleições, o líder do partido não se escusou em comparar os
resultados obtidos com os do final dos anos 80 e meados dos anos 90 de forma a
apontar os “períodos de governação mais exigente” como forte razão do
insucesso. Passos Coelho afirmou não ter dúvidas “que há sempre um preço a
pagar pela forma como estamos na política, o facto de esta campanha ter
mostrado que as candidaturas que suportávamos não cediam ao populismo e, antes
pelo contrário, se mantinham com os pés bem assesntes na terra acaba sempre por
trazer consequências eleitorais”.
Partindo para uma análise
concreta dos resultados eleitorais do PSD, temos antes de mais uma redução
considerável de percentagem de votos em relação a 2009. De 22,95% em 2009, o
PSD passou a 16,69% nestas eleições. No que ao número de votos diz respeito,
temos nova redução significativa: de 1.270.137 votos em 2009 para 834.028 em
2013. De seguida, podemos olhar ao número de mandatos alcançados: de 666
mandatos em 2009, o PSD passou a 531 nestas eleições. Quanto ao número de
câmaras conquistadas, nova redução: de 117 câmaras em 2009 para 83 em 2013.
Como podemos ver, tratou-se de uma derrota a todos os níveis esta que o PSD
sofreu no passado domingo, ainda assim há factores positivos a realçar: no que
toca às capitais de distrito e apesar de terem perdido Coimbra, Portalegre,
Porto e Vila Real, o PSD conseguiu manter Aveiro, Faro, Santarém e Viseu bem
como ganhar Braga e Guarda. Para terminar esta análise, parece importante
realçar que com estes resultados o partido perdeu a Associação Nacional de
Municípios, associação esta que liderava desde 2001.
No seguimento destes
resultados autárquicos levantaram-se ecos de uma possível crise no seio do PSD,
afirmando a imprensa que vários dos seus dirigentes procuram responsáveis pela
derrota eleitoral. É nesta linha de ideias que podem ser vistas as sucessivas
referências a uma “caça às bruxas” que diferentes membros do partido têm feito,
talvez no seguimento das declarações feitas por Marco António Costa quando
questionado sobre os casos de militantes sociais-democratas que concorreram em
listas adversárias nestas Eleições Autárquicas. Um exemplo paradigmático dessas
referências foi a de José Luís Arnaut que considerou “muito mau sinal o partido
entrar num processo de caça às bruxas”, não se coibindo, isso sim, de apontar o
dedo “à falta de orientação da direcção nacional”. No meio desta pulverização
de opiniões, o Conselho Nacional do PSD reuniu terça-feira, dia 1 de Outubro, com
o objectivo de discutir os resultados obtidos nestas Eleições Autárquicas,
anunciando antes do início da mesma a realização de eleições directas para a
liderança do partido em Janeiro e a antecipação do congresso para Fevereiro.
Por fim, dar nota de dois
aspectos interessantes relacionados com Marcelo Rebelo de Sousa: primeiro, e
recorrendo à grelha de análise apresentada num dos seus comentários semanais,
pode-se dizer que o PSD sofreu uma derrota estrondosa nestas eleições já que
perdeu em número de municípios mas também porque não conseguiu ganhar a câmara
do Porto; segundo, assinalar a sua posição quando defende que Pedro Passos
Coelho “tem sido dos piores líderes do PSD” bem como “a pior liderança de
autárquicas no PSD desde sempre”, aproveitando para relembrar uma célebre
declaração do primeiro-ministro (“que se lixem as eleições, que eu quero salvar
o país”) acrescentando “que se lixem as eleições, estão lixadas. Confirmou-se a
profecia dele, lixaram-se as eleições. Ao menos salve-se o país, porque se se
lixam as eleições e não se salva o país, então lixa-se tudo”.
Rúben
Guerreiro
03 /
10 / 2013
Fontes:
· 30-09-2013
+ http://www.tvi24.iol.pt/politica/autarquicas-eleicoes-psd-passos-coelho-votos-tvi24/1494776-4072.html,
consultado dia 01-10-2013 às 9 horas.
· 29-09-2013
+ http://www.youtube.com/watch?v=Jr5o-Eauihs&feature=youtube_gdata,
consultado dia 01-10-2013 às 10 horas.
· 01-10-2013
+ http://www.tvi24.iol.pt/503/politica/psd-autarquicas-passos-coelho/1495041-4072.html,
consultado dia 01-10-2013 às 22 horas.
· 30-09-2013
+ http://www.tvi24.iol.pt/503/politica/marcelo-rebelo-de-sousa-opiniao-comentario-eleicoes-autarquicas-tvi24/1494858-4072.html,
consultado dia 02-10-2013 às 10 horas.
· http://autarquicas2013.mj.pt/index.html#none,
consultado dia 02-10-2013 às 22 horas.
· 02-10-2013
+ http://www.tvi24.iol.pt/videos/video/13967064/1, consultado dia 02-10-2013 às
23 horas.
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