Subjacente ao conceito da própria Maçonaria está um aprimoramento da
mente, da moral e do espírito dos indivíduos para que os vícios, os preconceitos,
os fanatismos, as ambições e as ignorâncias
sejam combatidas e assim se prospere na procura da verdade, da justiça, da
liberdade, da fraternidade, do dever e do direito.
Esta dedicação à moral e ao
intelectual dá-se como forma de tornar a Humanidade mais tolerante aos
diferentes aspectos da vida estejam eles ligados à religião, à política ou tão
somente à vida quotidiana das pessoas. Um dos princípios máximos defendidos
pela Maçonaria é a tolerância mútua,
que compreende o respeito pelo próximo, não havendo a imposição de dogmas e por
isso não submetendo ninguém a uma obediência espiritual.
Ajudar o próximo não é um favor mas
sim o cumprimento do dever. Quem pertence à Maçonaria
trai o seu juramento quando perde uma oportunidade de praticar o Bem. O que
para muitos profanos é um acto meritório, para os Maçons é um dever imperativo e sagrado. Deve existir o convívio com
os seus semelhantes, sem que haja a necessidade da procura de qualquer procedência
ou credo religioso. 1
A Maçonaria, em termos sintetizados, pode ser definida como:
·
Uma instituição humanitária e sublime
que exalta tudo o que une e aspira a fazer da humanidade uma grande família de
irmãos.
·
Uma instituição de paz e amor, aberta às
mais nobres aspirações e onde se adquire o equilíbrio interior.
· Uma
instituição em que a Fraternidade é uma influência para uma concepção mais
nobre e mais elevada da vida, porque é uma força indestrutível, nobre e
generosa.
· Uma
instituição de ordem perpétua e de associação de pessoas ligadas por
determinados valores, que perseguem determinados fins e que estão vinculadas a
certas regras.
· Uma
instituição cuja entrada está submetida a uma cerimónia de iniciação, que significa
literalmente o começo e simboliza a passagem das “Trevas” para a “Luz”.
· Uma
instituição de rituais, porque determina certos ritos que traduzem simbolicamente
sabedorias que remontam a tempos mais antigos.
· Uma
instituição filosófica, porque transformou-se numa associação de carácter
especulativo, procurando responder às mais profundas interrogações do Homem. O
que se pretende é a construção de um Homem novo e de uma nova sociedade, daí
que os seus ritos assentam na ideia de construção e na geometria porque só ela
permite compreender a medida de todas as coisas.
· Uma
instituição progressista, porque visa o progresso da Humanidade, no pressuposto
de que é possível um homem melhor numa sociedade melhor. Reduzir as
desigualdades e as injustiças sociais é um dos objectivos, através da elevação
moral e espiritual de cada indivíduo. Está acima de todos os partidos,
coexistindo nela pessoas das mais diversas crenças e ideologias. 2
No entanto, analisar e falar sobre
a Maçonaria nunca é fácil não só pela
falta de documentação disponível como também pela própria desconfiança e
mistério que este tema desperta na sociedade actual. 3
Apesar deste facto, o fenómeno da Maçonaria chegou a Portugal
aproximadamente no segundo quartel do século XVIII, quando em 1727 foi fundada
por comerciantes britânicos uma Loja que ficou conhecida nos registos da
Inquisição como a dos “Hereges Mercadores”. Em 1733 fundou-se a segunda oficina
em Lisboa, denominada de “Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia”, na qual
predominavam maioritariamente católicos. Os nomes dos seus membros eram de
conhecimento geral, tratando-se sobretudo de Irlandeses tanto comerciantes como
mercenários do exército português mas havia mesmo assim uma grande variedade de
profissões dentro do colectivo. Passados cinco anos da sua fundação, ao ser
promulgada a Bula Condenatória de Clemente XII, a Loja dissolveu-se e muitos
dos seus membros ingressaram noutras Lojas Maçónicas.
A terceira Loja criada em 1741, em
Lisboa, por um lapidário de diamantes naturalizado inglês, durou cerca de dois
anos e nela ingressaram vários estrangeiros residentes em terras lusas, quase
todos católicos (embora o fundador John Coustos fosse protestante). Apresentava
ligações a profissões comerciais, a maioria ligadas à comercialização de pedras
preciosas. O desfecho desta Loja, contudo não foi o melhor: após a denúncia à
Inquisição os Maçons pertencentes a
esta ordem foram presos, torturados e sentenciados, sendo muitos deles exilados
e proibidos de regressar ao país. Após este acontecimento a primeira Loja
conhecida em terras portuguesas acabou mesmo por abrandar as suas acções,
havendo assim um período estacionário que só renasce na década de 1760- 1770 à
mercê de uma certa estabilidade governativa. Sebastião José de Carvalho e Melo,
mais conhecido como Marquês de Pombal, era um homem esclarecido que conhecia e
fora provavelmente iniciado na Maçonaria
quando residia fora do país, quebrou os entraves impostos pela Inquisição
tornando-a num “dócil” instrumento do poder do Estado. Em 1768 foi criada a
primeira Loja no Funchal, da qual pertenciam membros da nobreza e da alta
burguesia locais. 4
Sucedendo a este período de acalmia
e após a morte do rei D. José, em 1777 e a sucessão de sua filha D. Maria I, o
Marquês de Pombal e o seu proteccionismo Maçónico foram afastados. Diogo Inácio
de Pina Manique torna-se intendente geral da Polícia do Reino em 1780,
penalizando especialmente a Maçonaria, readquirindo a Inquisição a sua plena
autonomia anterior. Devido ao endurecimento da vigilância foram vários os viajantes
que assistiram a reuniões clandestinas de lojas a bordo dos navios estrangeiros
ancorados no porto de Lisboa. Foi a este retrocesso de reaccionarismo
conservador, aliado à queda da burguesia pombalina, em substituição da antiga
aristocracia de sangue, que se designou de Viradeira.
Em consequência das diversas revoluções liberais europeias (nomeadamente a
francesa) e americanas no final do século XVIII, a burguesia capitalista
portuguesa aproximava o seu eixo civilizacional rumo a França, lutando contra o
absolutismo monárquico e lentamente substituindo as referências culturais
britânicas. Tal processo, iniciando uma nova conjuntura, teve os seus efeitos
maçónicos.
No entanto, a constituição de novas
Lojas inglesas pelos súbditos britânicos a reunião maçónica Anglo-Franco-Portuguesa
de compromisso realizada em 1797 e a contribuição decisiva do Duque de Sussex
para a independência Maçónica portuguesa foram os últimos actos do imperialismo
maçónico britânico fundador no nosso país. Assim, a génese de
Lojas Maçónicas originalmente portuguesas não reconhecidas de início no plano
administrativo pela Maçonaria Britânica, o desejo de independência
institucional e um significativo incremento demográfico dos operários nacionais
conduziram à criação da Primeira Obediência Maçónica Nativa em 1802, conhecida
como Grande
Oriente Lusitano. 5
Ana Cristina Santos
Fontes:
1
– Revista Super Interessante, “O que é e como surgiu a Maçonaria?”. Acedido em http://super.abril.com.br,
no dia 6 de Outubro de 2013 pelas 18H
2
– Maçonaria em Portugal. Acedido em http://www.maconariaportugal.com, no
dia 6 de Outubro de 2013 pelas 19H
3
– Grande Loja dos Antigos Livres e Aceites Maçons de Portugal (1882), “História
da Maçonaria em Portugal”. Acedido em http://glnp.net, no dia 5 de
Outubro de 2013 pelas 16H
4
– Grande Oriente Lusitano. Maçonaria Portuguesa (desde 1802). Acedido em http://www.gremiolusitano.pt,
no dia 7 de Outubro de 2013 pelas 14H
5
– Grande Loja dos Antigos Livres e Aceites Maçons de Portugal (1882), “História
da Maçonaria em Portugal”. Acedido em http://glnp.net, no dia 5 de
Outubro de 2013 pelas 20H
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