segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O Início da Maçonaria em Portugal


Subjacente ao conceito da própria Maçonaria está um aprimoramento da mente, da moral e do espírito dos indivíduos para que os vícios, os preconceitos, os fanatismos, as ambições e as ignorâncias sejam combatidas e assim se prospere na procura da verdade, da justiça, da liberdade, da fraternidade, do dever e do direito.

Esta dedicação à moral e ao intelectual dá-se como forma de tornar a Humanidade mais tolerante aos diferentes aspectos da vida estejam eles ligados à religião, à política ou tão somente à vida quotidiana das pessoas. Um dos princípios máximos defendidos pela Maçonaria é a tolerância mútua, que compreende o respeito pelo próximo, não havendo a imposição de dogmas e por isso não submetendo ninguém a uma obediência espiritual.

Ajudar o próximo não é um favor mas sim o cumprimento do dever. Quem pertence à Maçonaria trai o seu juramento quando perde uma oportunidade de praticar o Bem. O que para muitos profanos é um acto meritório, para os Maçons é um dever imperativo e sagrado. Deve existir o convívio com os seus semelhantes, sem que haja a necessidade da procura de qualquer procedência ou credo religioso. 1

A Maçonaria, em termos sintetizados, pode ser definida como:

·        Uma instituição humanitária e sublime que exalta tudo o que une e aspira a fazer da humanidade uma grande família de irmãos.  

·        Uma instituição de paz e amor, aberta às mais nobres aspirações e onde se adquire o equilíbrio interior.  

·      Uma instituição em que a Fraternidade é uma influência para uma concepção mais nobre e mais elevada da vida, porque é uma força indestrutível, nobre e generosa.

·      Uma instituição de ordem perpétua e de associação de pessoas ligadas por determinados valores, que perseguem determinados fins e que estão vinculadas a certas regras.

·      Uma instituição cuja entrada está submetida a uma cerimónia de iniciação, que significa literalmente o começo e simboliza a passagem das “Trevas” para a “Luz”.

·      Uma instituição de rituais, porque determina certos ritos que traduzem simbolicamente sabedorias que remontam a tempos mais antigos.

·      Uma instituição filosófica, porque transformou-se numa associação de carácter especulativo, procurando responder às mais profundas interrogações do Homem. O que se pretende é a construção de um Homem novo e de uma nova sociedade, daí que os seus ritos assentam na ideia de construção e na geometria porque só ela permite compreender a medida de todas as coisas.

·      Uma instituição progressista, porque visa o progresso da Humanidade, no pressuposto de que é possível um homem melhor numa sociedade melhor. Reduzir as desigualdades e as injustiças sociais é um dos objectivos, através da elevação moral e espiritual de cada indivíduo. Está acima de todos os partidos, coexistindo nela pessoas das mais diversas crenças e ideologias. 2

No entanto, analisar e falar sobre a Maçonaria nunca é fácil não só pela falta de documentação disponível como também pela própria desconfiança e mistério que este tema desperta na sociedade actual. 3

Apesar deste facto, o fenómeno da Maçonaria chegou a Portugal aproximadamente no segundo quartel do século XVIII, quando em 1727 foi fundada por comerciantes britânicos uma Loja que ficou conhecida nos registos da Inquisição como a dos “Hereges Mercadores”. Em 1733 fundou-se a segunda oficina em Lisboa, denominada de “Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia”, na qual predominavam maioritariamente católicos. Os nomes dos seus membros eram de conhecimento geral, tratando-se sobretudo de Irlandeses tanto comerciantes como mercenários do exército português mas havia mesmo assim uma grande variedade de profissões dentro do colectivo. Passados cinco anos da sua fundação, ao ser promulgada a Bula Condenatória de Clemente XII, a Loja dissolveu-se e muitos dos seus membros ingressaram noutras Lojas Maçónicas.

A terceira Loja criada em 1741, em Lisboa, por um lapidário de diamantes naturalizado inglês, durou cerca de dois anos e nela ingressaram vários estrangeiros residentes em terras lusas, quase todos católicos (embora o fundador John Coustos fosse protestante). Apresentava ligações a profissões comerciais, a maioria ligadas à comercialização de pedras preciosas. O desfecho desta Loja, contudo não foi o melhor: após a denúncia à Inquisição os Maçons pertencentes a esta ordem foram presos, torturados e sentenciados, sendo muitos deles exilados e proibidos de regressar ao país. Após este acontecimento a primeira Loja conhecida em terras portuguesas acabou mesmo por abrandar as suas acções, havendo assim um período estacionário que só renasce na década de 1760- 1770 à mercê de uma certa estabilidade governativa. Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, era um homem esclarecido que conhecia e fora provavelmente iniciado na Maçonaria quando residia fora do país, quebrou os entraves impostos pela Inquisição tornando-a num “dócil” instrumento do poder do Estado. Em 1768 foi criada a primeira Loja no Funchal, da qual pertenciam membros da nobreza e da alta burguesia locais. 4

Sucedendo a este período de acalmia e após a morte do rei D. José, em 1777 e a sucessão de sua filha D. Maria I, o Marquês de Pombal e o seu proteccionismo Maçónico foram afastados. Diogo Inácio de Pina Manique torna-se intendente geral da Polícia do Reino em 1780, penalizando especialmente a Maçonaria, readquirindo a Inquisição a sua plena autonomia anterior. Devido ao endurecimento da vigilância foram vários os viajantes que assistiram a reuniões clandestinas de lojas a bordo dos navios estrangeiros ancorados no porto de Lisboa. Foi a este retrocesso de reaccionarismo conservador, aliado à queda da burguesia pombalina, em substituição da antiga aristocracia de sangue, que se designou de Viradeira. Em consequência das diversas revoluções liberais europeias (nomeadamente a francesa) e americanas no final do século XVIII, a burguesia capitalista portuguesa aproximava o seu eixo civilizacional rumo a França, lutando contra o absolutismo monárquico e lentamente substituindo as referências culturais britânicas. Tal processo, iniciando uma nova conjuntura, teve os seus efeitos maçónicos.

No entanto, a constituição de novas Lojas inglesas pelos súbditos britânicos a reunião maçónica Anglo-Franco-Portuguesa de compromisso realizada em 1797 e a contribuição decisiva do Duque de Sussex para a independência Maçónica portuguesa foram os últimos actos do imperialismo maçónico britânico fundador no nosso país. Assim, a génese de Lojas Maçónicas originalmente portuguesas não reconhecidas de início no plano administrativo pela Maçonaria Britânica, o desejo de independência institucional e um significativo incremento demográfico dos operários nacionais conduziram à criação da Primeira Obediência Maçónica Nativa em 1802, conhecida como Grande Oriente Lusitano. 5


                    Ana Cristina Santos
                                                                                                              

Fontes:

1 – Revista Super Interessante, “O que é e como surgiu a Maçonaria?”. Acedido em http://super.abril.com.br, no dia 6 de Outubro de 2013 pelas 18H

2 – Maçonaria em Portugal. Acedido em http://www.maconariaportugal.com, no dia 6 de Outubro de 2013 pelas 19H

3 – Grande Loja dos Antigos Livres e Aceites Maçons de Portugal (1882), “História da Maçonaria em Portugal”. Acedido em http://glnp.net, no dia 5 de Outubro de 2013 pelas 16H

4 – Grande Oriente Lusitano. Maçonaria Portuguesa (desde 1802). Acedido em http://www.gremiolusitano.pt, no dia 7 de Outubro de 2013 pelas 14H

5 – Grande Loja dos Antigos Livres e Aceites Maçons de Portugal (1882), “História da Maçonaria em Portugal”. Acedido em http://glnp.net, no dia 5 de Outubro de 2013 pelas 20H

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