Embora estejamos a passar por um
período de grande alvoroço no domínio financeiro, a realidade é que esta
inquietação aumenta quando se fala em Orçamento do Estado. Neste domínio,
depois de algumas semanas de especulação, foi, finalmente, entregue a proposta
de Orçamento do Estado em relação à qual tanto se especulava. Contudo, as
expectativas não ficaram assim tão distantes do que na realidade se veio a
suceder, visto que as exigentes medidas que são apresentadas já eram, de algum
modo, adivinhadas pela conjuntura vivida nos últimos tempos.
O
Orçamento do Estado de 2014, apresentado pela Ministra das Finanças, foi
caracterizado como sendo um reforço do esforço para os portugueses. No entanto,
Maria Luís Albuquerque afirmou que este era “exigente mas equilibrado, duro mas
equitativo”. O Governo, embora afirme reconhecer a dureza e a exigência deste
Orçamento do Estado, acaba por apresentar, mais uma vez, o seu objectivo de
continuar no mesmo rumo para cumprir os 4% de défice acordados com a
troika. Esta é uma realidade que já não
é novidade visto que nos últimos meses o Governo sempre defendeu a continuação
do caminho que tem sido trilhado. Caminho este que a oposição acredita levar à
asfixia da economia nacional.
Para
se vir a conseguir aumentar as poupanças, neste Orçamento do Estado, surge o já
falado corte nas despesas com salários e pensões. Este é um ponto que já tinha
sido frisado, por exemplo, na entrevista que Pedro Passos Coelho deu aos 20
portugueses escolhidos, onde alegou ser impossível não cortar neste sector
visto que é um dos domínios que mais influência tem nas finanças públicas
nacionais. Para comprimir a despesa,
fala-se em cortes progressivos e convergência de pensões, com o suposto intuito
de que estes sejam mais equitativos e justos para as famílias portuguesas, no
entanto, pode dizer-se que 90% dos funcionários da Função Pública vão ser
afectados pelos cortes salariais. Apesar das medidas anunciadas, o executivo
afirma que os cortes serão repostos assim que Portugal estiver em condições
para o fazer.
Embora
os cortes nos salários e nas pensões surjam em primeiro lugar na tabela das
preocupações dos portugueses, a realidade é que existem outros sectores que
também sofreram alterações com o intuito de se conseguir aumentar a receita nos
cofres do Estado. Estas alterações também vão influenciar a vida quotidiana de
cada um. Pode, então, falar-se, por exemplo, na elevada sobretaxa do IRS, no
aumento do Imposto Único de Circulação para os carros a gasóleo e da manutenção
do elevado valor do IVA. Também se esperam mais receitas com a banca e com o
sector energético, para além do aumento no Imposto sobre o Tabaco e as bebidas
alcoólicas. Como tentativa de atenuar a situação surge a ideia de promover um
sorteio de prémios para quem pedir facturas.
Relativamente à
constitucionalidade das medidas apresentadas no Orçamento do Estado 2014, a
Comissão Europeia demonstra o seu descontentamento no quer toca as decisões do
Tribunal Constitucional visto que o considera uma força de bloqueio na política
orçamental delineada. A realidade é que a troika está-se sempre a referir
ao Tribunal Constitucional com menos agrado, defendendo que não é altura para
activismos políticos. Neste seguimento, os juízes acabam por exigir respeito,
essencialmente, pela separação de poderes dos órgãos de soberania nacional.
Para grande desagrado da troika, o Tribunal Constitucional já alertou que este
Orçamento do Estado têm problemas, certamente. É neste seguimento que Cavaco
Silva se demonstrou confuso relativamente à possibilidade do pedido de
fiscalização preventiva, considerando que seria pior se o Orçamento do Estado
não entrasse em vigor.
Embora
este deva ser o último Orçamento do Estado sob a intervenção do programa de
ajustamento financeiro, é preciso notar que as finanças públicas ainda estão
longe de chegar a um equilíbrio. Apesar do esforço, após ser apresentada a
proposta de Orçamento do Estado 2014, os mercados reagiram com pouco
entusiasmo. Neste seguimento, apenas Bruxelas demonstrou um maior entusiasmo
visto que a Comissão Europeia elogia os cortes na despesa. Os juros da dívida pública
também se mantiveram nos mesmos valores, talvez por uma questão de incerteza
relativamente à capacidade de Portugal levar este Orçamento do Estado até ao
fim. Embora se mantenha este cenário negativo, acabou por ser divulgado que os
indicadores económicos, nos passados meses, têm vindo a acentuar os sinais de
recuperação.
Por
fim, é essencial referir a confusão existente nas afirmações do executivo
relativamente à existência de um programa cautelar. Deste modo, Pires de Lima
afirmou, em Londres, que o Governo iria começar a negociar o programa cautelar no
início de 2014, enquanto que os restantes membros defendem que não há nenhum
programa cautelar em vista. Mais uma vez no executivo divergem as opiniões e,
apesar das confusões, em Bruxelas ainda se afirma que é cedo para se falar num
eventual programa cautelar para Portugal.
Patrícia Paulino
Fontes:
Programas televisivos:
Noticiários (RTP, SIC NOTICIAS E TVI24); 25º hora (Resumo
diário) – TVI 24.
Alguns links a consultar:
PSD
acusa TC de incoerência,
Jornal Económico, publicado a 18/10/2013, in http://economico.sapo.pt/noticias/psd-acusa-tc-de-incoerencia_179789.html,
consultado a 20/10/2013.
ANÍBAL, Sérgio, OE tem riscos constitucionais, avisa a Moody's, Jornal Público, publicado a 18/10/2013
in http://www.publico.pt/economia/noticia/oe-tem-riscos-constitucionais-avisa-a-moodys-1609629,
consultado a 20/10/2013.
BRITO, Ana, Nova taxa sobre sector energético vai custar à Galp, EDP e REN 110 milhões
de euros, Jornal Público,
publicado a 16/10/2013, in http://www.publico.pt/economia/noticia/nova-taxa-sobre-sector-energetico-vai-custar-a-galp-edp-e-ren-110-milhoes-de-euros-1609360,
consultado a 17/10/2013.
Orçamento do Estado de 2014, Jornal Económico, publicado a 15/10/2013,
in http://economico.sapo.pt/noticias/orcamento-do-estado-para-2014_179380.html,
consultado a 17/10/2013.
LUCÍLIA, Tiago, Cortes para
quem ganha mais de 600 euros na Função Pública, Jornal de Noticias, publicado a 15/10/2013, in http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=3476374,
consultado a 15/10/2013.
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