quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Debate Abstenção



As eleições autárquicas de 29 de Setembro registaram uma das maiores taxas de sempre de abstenção. Segundo os dados da Direcção Geral de Administração Interna, 47,4% dos 9 milhões e 500 mil eleitores inscritos optaram por não exercer o seu direito de voto. Assim, foram às urnas apenas 4 milhões e 992 mil eleitores. A abstenção eleitoral tem sido uma questão debatida nos últimos anos muito por causa do seu progressivo aumento nos países ocidentais. Importa reflectir sobre as razões que poderão levar os cidadãos conscientemente a decidir que não vão votar. André Freire e Pedro Magalhães apresentam algumas explicações sobre o tema em “ A abstenção eleitoral em Portugal”: as variações entre os níveis de abstenção nos diferentes países pode ser relacionado com factores de natureza demográfica e socioeconómica, isto é, se entendermos a participação eleitoral como uma actividade de “consumo político”, a disponibilidade de maiores recursos materiais e educacionais tende a gerar mais capacidade e propensão para o exercício de voto.
Segundo os autores, votar tem custos associados ligados à compreensão de conceitos e mensagens políticas e ao tempo disponível para utilizar nas actividades que vão para além da satisfação das necessidades básicas. A lógica ao longo dos tempos tem sido no sentido de relacionar as competências educacionais, níveis de rendimento e status social com a participação eleitoral assumindo assim que maiores níveis de rendimento per capita ou de instrução média significam menores taxas de abstenção. No mesmo sentido, países com altas taxas de desemprego podem ser caracterizados por uma marginalização de parte significativa de população em relação ao sistema produtivo diminuindo a sua exposição a normais sociais favoráveis à participação, o envolvimento com a comunidade política e a consciencialização em relação a interesses comuns.
Outra das explicações que nos é apresentada pelos autores é a idade dos indivíduos. Também a professora Paula Espírito Santo, referiu ao jornal Público, é aos mais jovens que se associa um "maior distanciamento político e eleitoral". O facto de não terem experienciado um regime com liberdades e direitos limitados, como o Estado Novo de Oliveira Salazar e Marcello Caetano, pode contribuir para que não "valorizem o voto como um direito". Ao contrário da população mais velha que, por motivos de ordem histórica, tem uma relação diferenciada com o voto. "Os jovens votam menos, em regra, porque desconhecem a oferta eleitoral e como tal não podem votar sobre o que/quem desconhecem”. O ciclo de vida em que o indivíduo se encontra pode muito bem ser uma das explicações para a participação eleitoral na medida em que os indivíduos mais jovens, que estão dependentes economicamente e desintegrados do sistema produtivo tendem a revelar maior desinteresse e desinformação pelos assuntos políticos. Assim, segundo esta explicação, países com populações mais envelhecidas apresentam taxas de abstenção menores.
Outra das explicações possíveis para o estudo da abstenção é também o contexto de mobilização política existente em cada país. A capacidade mobilizadora dos sindicatos e dos partidos como meios de ligação entre os cidadãos e a política representam um papel fundamental na consciencialização de interesses comuns e da redução dos custos do voto.
Na passada aula, aula dedicada ao debate sobre a abstenção, pudemos contar com a presença de 3 convidados: Vítor Dias do Partido Comunista Português, Pedro Delgado Alves do Partido Socialista e Duarte Marques do Partido Social-Democrata. O objectivo das suas presenças passava essencialmente por obter uma perspectiva explicativa para o fenómeno da abstenção por parte de cada partido.
Vítor Dias começa por reforçar a ideia de que existe um fosso enorme entre o discurso universitário e as vivências que os militantes têm dentro dos partidos de que fazem parte, e que por isso, os politólogos devem ter um contacto mais alargado com a realidade. Denuncia também a incapacidade que alguns partidos têm em fazer estudos e sondagens (devido aos recursos financeiros de que muitos não dispõem para esse fim) e considera não ser exequível fazer uma análise tão factual dos resultados eleitorais. Diz-nos também que considera as sondagens um gasto de recursos remetendo-nos para o caso francês que dispõe de um sistema de sondagens detalhado e rigoroso que analisa factores como faixas etárias, rendimentos, instrução académica, entre outros. Segundo o representante do PCP, um sistema de sondagens nestes moldes configura-se útil ao contrário do nosso. Apesar de tudo, explana o seu “descrédito” pelas sondagens porque considera fácil fazer os diagnósticos mas muito mais difícil converter esses mesmos dados em soluções e invoca o problema da Frente Nacional em França já que apesar da sua clara ideologia de extrema-direita, os votos depositados neste partido aumentam progressivamente nos últimos anos.

Sofia Almeida

Fontes:
Freire, André; Magalhães, Pedro – A abstenção eleitoral em Portugal, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa, 2002, ISBN 972-671-086-3

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