Após a divulgação dos resultados das eleições autárquicas,
tornou-se clara a necessidade de uma reformulação ou até da total transformação
do sistema eleitoral. A abstenção foi a maior de sempre neste tipo de eleições
e supõe-se que os níveis não irão baixar, tendo em conta o descontentamento por
parte dos cidadãos portugueses, face aos problemas adjacentes à comunidade
política. Entre esses encontra-se a corrupção, a alteração de dados e a falta
de continuidade dos pressupostos previstos nos programas eleitorais dos
candidatos, o que destrói por completo a confiança dos eleitores.
Implementar
reformas no sistema eleitoral não é fácil. Normalmente, as mudanças prendem-se
com diferentes concepções de democracia e divisões intra-partidárias,
sustentadas por um grande receio face às consequências e efeitos das decisões tomadas,
para além de uma dupla pressão contextual de curto e longo prazo. Esta situação
torna obter um consenso numa tarefa árdua e laboriosa, o que explica o insucesso
das reformas eleitorais, que são usualmente propostas por “partidos de poder”[1]
e apenas quando esses pretendem uma maximização da sua influência. A pressão
social fraca ou inexistente consiste num complemento para a falta de propostas
de modificações do sistema eleitoral, devida também ao grau de liberdade diminuto
dos actores políticos e dos cidadãos para as efectuar.
Apesar
das dificuldades inerentes, a mudança é essencial. Actualmente, o paradigma
social e político português favorece a tentativa de alcançar diferentes
alternativas que tornem o sistema e a comunidade política mais sustentável e
assegurem a sua (real) representatividade. Propostas como a mudança para um
sistema eleitoral semelhante ao neozelandês, alemão ou inglês, em que cada
eleitor tem dois votos (party vote e electoral vote) aquando as eleições
nacionais, que ocorrem a cada três anos[2],
visam conter as promessas infundadas dos detentores de cargos políticos, bem
como a inactividade e desinteresse dos cidadãos.
Para além
desta perspectiva, outras chegam à luz do dia. As listas abertas e círculos
uninominais têm vindo a ser cada vez mais abordados como solução para os
problemas do nosso sistema eleitoral em vigor; apesar disto, há que ter em
conta que nenhum método ou sistema eleitoral é, na sua totalidade, perfeito.
Existem sempre falhas, como consequência da impossibilidade de satisfazer todos
os actores da vida política e de implementação de uma democracia directa.
Para controlar
a abstenção, vários defendem a imposição do direito de voto. Os eleitores
deviam ser obrigados a deslocar-se às urnas e a exercer o seu dever, de forma a
“proteger”[3]
a democracia, declarando também a penalização da abstenção através de multas ou
coimas.
Em
suma, a questão essencial baseia-se não na notória necessidade de mudança, mas
sim na forma como essa se irá proceder. As figuras do poder político nacional
têm de chegar a um acordo e deixar os seus egoísmos e interesses de lado, de
maneira a ser possível atingir uma sustentabilidade do sistema eleitoral português
e, consequentemente, o bem comum da população.
Inês Salen (212814)
Links Úteis:
- Proposta do Sistema Eleitoral Português - http://propostas.org/2012/05/30/reforma-sep/
Anexos:
Tabela
2
Principais propostas de reforma do sistema eleitoral em Portugal:
características e proponentes
[1] Meirinho,
Manuel/ Freire, André (org.), Cadernos de
Administração Interna: Eleições 2012, Revista de Assuntos Eleitorais – Sistema Eleitoral e Qualidade da Democracia,
p.12, in http://www.rcc.gov.pt/SiteCollectionDocuments/revista_eleicoes_12.pdf
(consultado no dia 12 de Outubro de 2013 ás 11h14min)
[2] Alpress,
Rita Bento, Por uma reforma eleitoral, in
http://www.congressoalternativas.org/2012/09/por-uma-reforma-eleitoral_18.html
(consultado no dia 12 de Outubro ás 11h43min)
[3] Público:
Carlos César defende voto obrigatório em
Portugal, in http://www.publico.pt/politica/noticia/carlos-cesar-defende-voto-obrigatorio-em-portugal-1383497
(consultado no dia 12 de Outubro de 2013 ás 12h05min)
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