Quando o apuramento das eleições
autárquicas foi conhecido, a maioria dos partidos e seus representantes
compareceram na Assembleia da República para discutir os resultados obtidos,
quer a nível autárquico, quer a nível nacional. O PSD recusou-se a fazê-lo a
nível nacional, argumentando que “isso é menosprezar o poder local e a
democracia”[1], apesar
da declaração efectuada por Passos Coelho felicitando a vitória do PS.
Tornou-se clara a forma como o
resultado das eleições autárquicas afectou a estabilidade do PSD e disseminou
tensões e conflitos internos difíceis de solucionar. O líder madeirense,
Alberto João Jardim, é um dos exemplos, com o descarte de militantes devido à
suposta “traição ao partido que contribuiu para o pior resultado eleitoral de
sempre”[2],
se bem que as causas da diminuição dos votos são consideravelmente mais
abrangentes.
Uma das queixas comuns a todos os partidos
políticos e possivelmente responsável pelos elevados níveis de abstenção pode
consistir na falta de cobertura e de tempo de antena concedida às campanhas
eleitorais nos meios de comunicação social. A decisão dos canais generalistas
(RTP, SIC e TVI) de apenas seguir os líderes partidários em detrimento da totalidade
dos candidatos e de dar o mesmo tempo de cobertura a todos os partidos, apesar
da sua dimensão, fez com que o conflito entre a CNE (Comissão Nacional de
Eleições) e os partidos políticos se agravasse. Matos Rosa, secretário-geral do
PSD, referiu, perante a situação, que a Comissão é responsável por “anacronismo
legislativo e conceptual” e pelo “crescimento da abstenção”[3],
denotando-se a crescente falta de interesse, por parte das televisões, de estar
no centro da disputa.
A abstenção é uma questão séria
que assola toda a comunidade política. Desde o primeiro acto eleitoral autárquico
do dia 12 de Dezembro de 1976 que os portugueses renunciam cada vez mais o seu
direito de voto. O valor da abstenção, aquando essa eleição, foi de 35,34% e a
partir desse ano o valor usualmente ronda entre os 30 e os 40%[4],
demonstrando a falta de participação dos cidadãos na vida política do seu país.
O valor da abstenção em percentagem, relativo às últimas eleições autárquicas, foi
de 47,4%, confirmando a tendência para o seu aumento desde 1982[5].
Os votos nulos e em branco também aumentaram para mais do dobro dos verificados
nas eleições autárquicas de 2009, com uma percentagem de 2,95% e de 3,87%[6],
respectivamente.
Mesmo com as percentagens
apuradas até às centésimas, é impossível a total certeza da veracidade quanto
aos resultados obtidos. As elevadas taxas de desemprego em Portugal e a
decrescente qualidade de vida dos cidadãos levaram, entre outras causas, a um
nível de emigração que teve um impacto na quantidade de votos, tendo em conta
também a falta de limpeza dos cadernos eleitorais.
É clara a importância da
abstenção e das consequências do seu crescimento na vida política portuguesa,
mas não é de admirar a falta de vontade dos portugueses de nela participar. A
falta de confiança na política está patente e a população acredita cada vez
menos na melhoria das suas condições de vida e encara os detentores dos cargos
dos órgãos representativos como os culpados pela situação em que se encontram. Esta
ocorrência não é benéfica para o futuro de Portugal e é necessária uma
requalificação do sistema para que a confiança e estabilidade sejam, de novo,
cimentadas.
Inês Salen (212814)
Inês Salen (212814)
[1] Lusa/Sol,
“PSD recusa leituras nacionais das
autárquicas”, in http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=87002
(consultado no dia 06 de Outubro de 2013 ás 17h00min)
[2] SIC
Notícias, “Jardim anuncia expulsão de
militantes do PSD-Madeira no rescaldo das autárquicas”, in http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2013/10/03/jardim-anuncia-expulsao-de-militantes-do-psd-madeira-no-rescaldo-das-autarquicas
(consultado no dia 06 de Outubro de 2013 ás 19h26min)
[3] Claro,
Luís, “Autárquicas. PSD acusa CNE de
promover o aumento da abstenção”, in http://www.ionline.pt/artigos/portugal/autarquicas-psd-acusa-cne-promover-aumento-da-abstencao
(consultado no dia 06 de Outubro de 2013 ás 17h53min)
[4] Roseira,
Maria de Belém, “Resultados e Resultados”,
in http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/resultados-e-resultados
(consultado no dia 07 de Outubro de 2013 ás 09h10min)
[5] Correio
da Manhã, “Maior abstenção de sempre nas
autárquicas”, in http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/maior-abstencao-de-sempre-nas-autarquicas
(consultado no dia 07 de Outubro de 2013 ás 09h32min)
[6] Rádio Renascença,
“Abstenção mais alta de sempre”, in http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=27&did=124004
(consultado no dia 07 de Outubro de 2013 ás 09h48min)
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