terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Manuela Cunha representa 'Os Verdes' no ISCSP

Volvidos 13 artigos e 11 semanas de aulas, a reportagem que dá corpo e voz a um dos objectivos primordiais da cadeira de Laboratório ao nível da Política Interna está, por fim, concluída.

28 de Novembro foi o dia escolhido para dar a conhecer melhor o único partido ecologista em Portugal. Militante activa há mais de duas décadas e membro da Comissão Executiva e do Conselho Nacional do Partido Ecologista “Os Verdes”, Manuela Cunha falou durante sensivelmente uma hora sobre o mesmo.
Antes de dar início à sua apresentação, uma questão provocatória foi-lhe dirigida. “Será que o partido Os Verdes são como melancias - verdes por fora e vermelhas por dentro?”.  Antes de responder a esta provocação, Manuela Cunha dirige-se ao outro convidado do ‘painel’ - Luis Humberto Teixeira  -  afirmando que este se tinha inspirado na história que escreveu sobre Os Verdes em Verdes Anos para criar o Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN). “Quanto à melancia, vou guardá-la para a sobremesa. Não acabaria a refeição sem melancia”, continua com humor.

Em termos do historial, geração e perspectiva ecologista, Manuela Cunha marca o berço na Europa, através de uma grande iniciativa de grupos pacifistas, anti-militaristas, anti-nuclearistas e anti-materialistas que permitiu o desenvolvimento de questões sobre os vários assuntos ligados ao materialismo mas também ligados ao capitalismo e os seus resultados, não só comerciais mas também os seus impactos sobre a Natureza e sobre o desenvolvimento ou crescimento que aponta para o crescente consumo na actividade humana.

“Os movimentos anti-nuclearistas e pacifistas da Europa começaram, sobretudo, na Guerra do Vietname que muito tempo ocupou todo o mundo e que, para além disso, gritou pelas fortes tendências anti-militaristas e pacifistas da Europa”, declara a convidada ecologista. Ao nível transnacional, as duas grandes redes começaram a formar-se e Os Verdes começaram a estabelecer as suas raízes.  Declara também que, nesse grande momento, o poder nuclear europeu era, até então, todo ele virado para o poderio nuclear-militar. Este passa para o militar-civil com um grande impulso para a energia pacifista, através das mencionadas tendências que os ecologistas da época se preocuparam em desenvolver para tornar uma Europa cada vez menos dependente da energia nuclear.

Para além disso, os anos 60/70, no período do pós-guerra na Europa, foram de extrema importância para perceber a dinâmica ou dimensão do consumo e da própria ecologia nesta altura. Interrompe esta percepção histórica e introduz elementos do seu percurso pessoal. “Eu era uma jovem, emigrei com 8 ou 9 anos para a França, faço todo o meu percurso escolar em França e regresso. Nasci em 1956 e, por isso,  estava no 12º ano quando aconteceu o 25 de Abril. Como jovem, é nestes movimentos que, digamos, minha consciência começa a crescer, especialmente com a já mencionada Guerra do Vietname, com a contestação do modelo de sociedade, da multiplicação dos centros comerciais e da felicidade humana através da aquisição de bens de consumo. As redes sociais perdem-se, assim, mesmo ao nível da família. É este percurso que me leva a surgir na consciência ecologista muito focada nesta relação do Homem com a paz, com o conforto mas também com o planeta e com a Natureza em que existe uma felicidade humana ligada a um conjunto de valores que passa também na relação harmoniosa entre o Homem e a Natureza; e não na economia, no consumo e nos bens materiais.”, conta-nos Manuela Cunha.

E é neste sentido que o partido ecologista está virado para a esquerda uma vez que esta visão ou movimento ecologista questiona-se sobre a estrutura eclética europeia ao nível do crescimento mas também sobre a questão nuclear, o desenvolvimento sustentável ou outros assuntos que possam sustentar a ecologia. Também na dimensão comercial, a ecologia tem as suas interrogações. Para ela, não pode haver exploração do Homem pelo Homem. Deve existir sim uma relação do Homem com o Homem bem como a Natureza. Uma relação que não leve à exaustão os recursos disponíveis nem ponha em causa as gerações futuras.
Em Portugal, um movimento ou organização não governamental de ambientalistas cuja fundação data 1948 (muito antes da Revolução dos Cravos) – a Liga para a Protecção da Natureza, promoveu uma maior e melhor consciência social e ambiental no país. Enquanto  associação de defesa do ambiente mais antiga da Península Ibérica, deu os primeiros passos quando a política ultrapassava a ecologia. Afinal, a ecologia activa ainda não estava bem consolidada no nosso país.

O PEV constituí-se só em 1982. Constituiu-se a partir da “vontade de contribuir para a construção de um Portugal soberano, capaz de decidir sobre o seu futuro, determinado em ganhar uma adequada auto-suficiência por via de uma aposta de relocalização de consumos e de produção em diversos domínios, e consciente da necessidade de equilíbrio ecológico” bem como da “vontade de cidadãos com visão ecologista de ir mais longe, na perspectiva de intervir na política, contribuir para a evolução e desenvolver a capacidade dos vários adversários na Assembleia da República pensarem na consequência ambiental das propostas e decisões tomadas”. E continua. “O PEV é composto por todos aqueles que integraram outrora e daqueles que estão hoje connosco. A história existe, está disponível e é para ser contada”.
No que diz respeito à consideração partidária do partido ecologista, a política não são só as eleições mas sim a relaçao com o ser humano e a Natureza. É uma forma de viver e de estar com o planeta em que o indíviduo deve agir diariamente para o bem-estar do mesmo.
Manuela Cunha traça outro objectivo para o PEV: levar questões ambientais para a Assembleia da República -  “Se Os Verdes não existissem, não se falava do ambiente no seio dos outros partidos”. “Quando olhamos um orçamento do Governo, qual deve ser a visão do ecologista? É ver se as medidas mantem o equilibrio dos seres humanos, traves de salarios mas se as escolhas dos investimentos vao contribuir para melhorar a sociedade e o mundo ou explorar recursos com interesses que não o bem-geral. É este o olhar sobre o OE de um ecologista”.

Para além disso, a ala ecologista cumpriu um verdadeiro papel quanto à consciencialização, ao estudo e à educação ambiental das escolas deste país, desde infantários a universidades. Foram elaborados dossiers e fotocópias de ensino ecológico para uma mudança de atitude.

Uma referência importante apresentada foi igualmente o plano nacional de barragens em que Os Verdes defenderam fortemente o transporte ferroviário, dando especial atenção às linhas do Minho, do Douro, do Tâmega e do Tua. Esta última com maior enfoque devido aos interesses económicos do Governo e da EDP, em nome do progresso e do desenvolvimento da região e que, por isso, pretenderam eliminar a construção da Barragem na Foz do Tua e reprovar a construção  desta linha ferroviária. Este foi um dos casos em que as propostas do Governo não servem o interesse público mas sim o interessa privado. Neste caso em concreto, o da EDP.

Manuela Cunha defende, ainda, que o impacto ecológico não se faz apenas com o Orçamento do Ministério do Ambiente. Faz-se com todo o Orçamento de Estado. Afinal, "as obras públicas são responsáveis por muitos danos causados à natureza. Note-se o caso do Parque de Monsanto como um caso fulcral para repensar as tomadas de decisão dos sucessivos governos". 

A política não convencional que Os Verdes fazem há muitos anos contribui para o desenvolvimento da política não só nas mãos dos partidos como também dos movimentos e do próprio cidadão. Nas eleições, já concorremos com coligações várias, nomeadamente com o Partido Socialista. Apesar dos ministros gostarem de mandar bocas sobre Os Verdes serem dependentes das coligações, eles também têm a noção de que os pequenos partidos têm poucas hipóteses de ter representação na AR e de conquistar um certo espaço. Deste modo, é preciso unir esforços e espaços. O Partido Comunista Português nunca nos condicionou. Esta coligação contribui para estarmos mais activos, uma vez que, só em 83 e em 87 conseguimos ter um grupo parlamentar. Manuela Cunha defende ainda que “não temos problema em contribuir para os outros apresentarem melhor propostas e copiarem-nos e, aqui, temos o exemplo da vacina contra o cancro do colo do útero em que a maioria socialista votou contra e logo de seguida apresentou a mesma proposta na Assembleia.. É sinal que servimos de grupo de pressão”. 

Apesar da falta de direito de antena na comunicação social, Os Verdes dirigem-se para o local através de campanhas de rua ou de propostas parlamentares, consideradas de muito valor mas que “não podem ser aprovadas devido ao quadro da União Europeia”.

Assim, Os Verdes contribuem fortemente para a criação de uma consciência ecologista ampla na sociedade portuguesa, quer na sociedade que chamam civil quer na sociedade organizada politicamente. Com uma constante interacção com a sociedade, esta pode melhorar quando reflectir sobre a evolução do mundo “quando o Homem e a Natureza viverem em harmonia e o primeiro repensar as suas atitudes e valores”.
Retomando à metáfora da melancia, Manuela Cunha defende que o “cordão umbilical já foi cortado há muito tempo” e que o PEV não tem uma relação tão directa com os comunistas uma vez que integra várias pessoas independentes que, podem ou não concordar com determinadas linhas de pensamento do PCP. Todavia, afirma também que a “ CDU é um fruto de que orgulhamo-nos muito”.

Viva à democracia e viva à melancia! Manuela Cunha termina a sua apresentação.
Ouve-se uma salva de palmas.

Adriana Correia
Fontes:
http://www.osverdes.pt/pages/eleicoes-legislativas-2009/materias-de-campanha.php#sthash.w4frPJir.dpuf, visitado às 14h11 de 03-12-2013
http://www.lpn.pt/default.aspx,visitado às 15h02 de 01-12-2013

30 anos de lutas ecologistas, 1982-2012

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