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de aulas, a reportagem que dá corpo e voz a um dos objectivos primordiais da
cadeira de Laboratório ao nível da Política Interna está, por fim, concluída.
28 de Novembro foi o dia
escolhido para dar a conhecer melhor o único partido ecologista em Portugal. Militante
activa há mais de duas décadas e membro da Comissão Executiva e do Conselho
Nacional do Partido Ecologista “Os Verdes”, Manuela Cunha falou durante
sensivelmente uma hora sobre o mesmo.
Antes de dar início à sua
apresentação, uma questão provocatória foi-lhe dirigida. “Será que o partido Os Verdes são como melancias - verdes
por fora e vermelhas por dentro?”. Antes
de responder a esta provocação, Manuela Cunha dirige-se ao outro convidado do
‘painel’ - Luis
Humberto Teixeira - afirmando que este se tinha inspirado na
história que escreveu sobre Os Verdes
em Verdes Anos para criar o Partido
pelos Animais e pela Natureza (PAN). “Quanto à melancia, vou guardá-la para a
sobremesa. Não acabaria a refeição sem melancia”, continua com humor.
Em termos do historial, geração e
perspectiva ecologista, Manuela Cunha marca o berço na Europa, através de uma
grande iniciativa de grupos pacifistas, anti-militaristas, anti-nuclearistas e
anti-materialistas que permitiu o desenvolvimento de questões sobre os vários
assuntos ligados ao materialismo mas também ligados ao capitalismo e os seus
resultados, não só comerciais mas também os seus impactos sobre a Natureza e
sobre o desenvolvimento ou crescimento que aponta para o crescente consumo na
actividade humana.
“Os movimentos anti-nuclearistas
e pacifistas da Europa começaram, sobretudo, na Guerra do Vietname que muito
tempo ocupou todo o mundo e que, para além disso, gritou pelas fortes
tendências anti-militaristas e pacifistas da Europa”, declara a convidada
ecologista. Ao nível transnacional, as duas grandes redes começaram a formar-se
e Os Verdes começaram a estabelecer
as suas raízes. Declara também que, nesse
grande momento, o poder nuclear europeu era, até então, todo ele virado para o
poderio nuclear-militar. Este passa para o militar-civil com um grande impulso
para a energia pacifista, através das mencionadas tendências que os ecologistas
da época se preocuparam em desenvolver para tornar uma Europa cada vez menos
dependente da energia nuclear.
Para além disso, os anos 60/70,
no período do pós-guerra na Europa, foram de extrema importância para perceber
a dinâmica ou dimensão do consumo e da própria ecologia nesta altura. Interrompe
esta percepção histórica e introduz elementos do seu percurso pessoal. “Eu era
uma jovem, emigrei com 8 ou 9 anos para a França, faço todo o meu percurso
escolar em França e regresso. Nasci em 1956 e, por isso, estava no 12º ano quando aconteceu o 25 de
Abril. Como jovem, é nestes movimentos que, digamos, minha consciência começa a
crescer, especialmente com a já mencionada Guerra do Vietname, com a
contestação do modelo de sociedade, da multiplicação dos centros comerciais e
da felicidade humana através da aquisição de bens de consumo. As redes sociais
perdem-se, assim, mesmo ao nível da família. É este percurso que me leva a
surgir na consciência ecologista muito focada nesta relação do Homem com a paz,
com o conforto mas também com o planeta e com a Natureza em que existe uma
felicidade humana ligada a um conjunto de valores que passa também na relação
harmoniosa entre o Homem e a Natureza; e não na economia, no consumo e nos bens
materiais.”, conta-nos Manuela Cunha.
E é neste sentido que o partido
ecologista está virado para a esquerda uma vez que esta visão ou movimento
ecologista questiona-se sobre a estrutura eclética europeia ao nível do
crescimento mas também sobre a questão nuclear, o desenvolvimento sustentável ou
outros assuntos que possam sustentar a ecologia. Também na dimensão comercial, a
ecologia tem as suas interrogações. Para ela, não pode haver exploração do Homem
pelo Homem. Deve existir sim uma relação do Homem com o Homem bem como a
Natureza. Uma relação que não leve à exaustão os recursos disponíveis nem ponha
em causa as gerações futuras.
Em Portugal, um movimento ou
organização não governamental de ambientalistas cuja fundação data 1948 (muito
antes da Revolução dos Cravos) – a Liga para a Protecção da Natureza, promoveu
uma maior e melhor consciência social e ambiental no país. Enquanto associação de
defesa do ambiente mais antiga da Península Ibérica, deu os primeiros passos
quando a política ultrapassava a ecologia. Afinal, a ecologia activa ainda
não estava bem consolidada no nosso país.
O PEV constituí-se só em 1982.
Constituiu-se a partir da “vontade de contribuir para a construção de um
Portugal soberano, capaz de decidir sobre o seu futuro, determinado em ganhar
uma adequada auto-suficiência por via de uma aposta de relocalização de
consumos e de produção em diversos domínios, e consciente da necessidade de
equilíbrio ecológico” bem como da “vontade de cidadãos com visão ecologista de
ir mais longe, na perspectiva de intervir na política, contribuir para a
evolução e desenvolver a capacidade dos vários adversários na Assembleia da
República pensarem na consequência ambiental das propostas e decisões tomadas”.
E continua. “O PEV é composto por todos aqueles que integraram outrora e
daqueles que estão hoje connosco. A história existe, está disponível e é para
ser contada”.
No que diz respeito à
consideração partidária do partido ecologista, a política não são só as
eleições mas sim a relaçao com o ser humano e a Natureza. É uma forma de viver
e de estar com o planeta em que o indíviduo deve agir diariamente para o
bem-estar do mesmo.
Manuela Cunha traça outro
objectivo para o PEV: levar questões ambientais para a Assembleia da República
- “Se Os Verdes não existissem, não se falava do ambiente no seio dos
outros partidos”. “Quando olhamos um orçamento do Governo, qual deve ser a
visão do ecologista? É ver se as medidas mantem o equilibrio dos seres humanos,
traves de salarios mas se as escolhas dos investimentos vao contribuir para
melhorar a sociedade e o mundo ou explorar recursos com interesses que não o
bem-geral. É este o olhar sobre o OE de um ecologista”.
Para além disso, a ala ecologista
cumpriu um verdadeiro papel quanto à consciencialização, ao estudo e à educação
ambiental das escolas deste país, desde infantários a universidades. Foram
elaborados dossiers e fotocópias de ensino ecológico para uma mudança de
atitude.
Uma referência importante apresentada foi igualmente o
plano nacional de barragens em que Os Verdes defenderam fortemente o transporte
ferroviário, dando especial atenção às linhas do Minho, do Douro, do Tâmega e
do Tua. Esta última com maior enfoque devido aos interesses económicos do
Governo e da EDP, em nome do progresso e do desenvolvimento da região e que,
por isso, pretenderam eliminar a construção da Barragem na Foz do Tua e
reprovar a construção desta linha
ferroviária. Este foi um dos casos em que as propostas do Governo não servem o
interesse público mas sim o interessa privado. Neste caso em concreto, o da
EDP.
Manuela Cunha defende, ainda, que o impacto ecológico não se faz apenas
com o Orçamento do Ministério do Ambiente. Faz-se com todo o Orçamento
de Estado. Afinal, "as obras públicas são responsáveis por muitos danos causados à
natureza. Note-se o caso do Parque de Monsanto como um caso fulcral para repensar as
tomadas de decisão dos sucessivos governos".
A política não convencional que Os Verdes fazem há muitos anos contribui
para o desenvolvimento da política não só nas mãos dos partidos como também dos
movimentos e do próprio cidadão. Nas eleições, já concorremos com
coligações várias, nomeadamente com o Partido Socialista. Apesar dos ministros
gostarem de mandar bocas sobre Os Verdes
serem dependentes das coligações, eles também têm a noção de que os pequenos
partidos têm poucas hipóteses de ter representação na AR e de conquistar um
certo espaço. Deste modo, é preciso unir esforços e espaços. O Partido
Comunista Português nunca nos condicionou. Esta coligação contribui para estarmos
mais activos, uma vez que, só em 83 e em 87 conseguimos ter um grupo
parlamentar. Manuela Cunha defende ainda que “não temos problema em contribuir
para os outros apresentarem melhor propostas e copiarem-nos e, aqui, temos o
exemplo da vacina contra o cancro do colo do útero em que a maioria socialista
votou contra e logo de seguida apresentou a mesma proposta na Assembleia.. É
sinal que servimos de grupo de pressão”.
Apesar da falta de direito de
antena na comunicação social, Os Verdes dirigem-se para o local através de campanhas
de rua ou de propostas parlamentares, consideradas de muito valor mas que “não podem
ser aprovadas devido ao quadro da União Europeia”.
Assim, Os Verdes contribuem fortemente para a criação de uma consciência
ecologista ampla na sociedade portuguesa, quer na sociedade que chamam civil
quer na sociedade organizada politicamente. Com uma constante interacção com a
sociedade, esta pode melhorar quando reflectir sobre a evolução do mundo “quando o Homem
e a Natureza viverem em harmonia e o primeiro repensar as suas atitudes e
valores”.
Retomando à metáfora da melancia,
Manuela Cunha defende que o “cordão umbilical já foi cortado há muito tempo” e
que o PEV não tem uma relação tão directa com os comunistas uma vez que
integra várias pessoas independentes que, podem ou não concordar com
determinadas linhas de pensamento do PCP. Todavia, afirma também que a “ CDU é um fruto de
que orgulhamo-nos muito”.
Viva à democracia e viva à
melancia! Manuela Cunha termina a sua apresentação.
Ouve-se uma salva de palmas.
Ouve-se uma salva de palmas.
Adriana Correia
Fontes:
http://www.osverdes.pt/pages/eleicoes-legislativas-2009/materias-de-campanha.php#sthash.w4frPJir.dpuf, visitado às 14h11 de 03-12-2013
http://www.lpn.pt/default.aspx,visitado
às 15h02 de 01-12-2013
30 anos de lutas ecologistas, 1982-2012
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