O processo de iniciação
admite, muitas vezes, o sentido de exclusividade masculina. Contudo, é certo
que na Antiguidade havia formas de iniciação também femininas. Quanto à
Maçonaria, existe um sentido mais exclusivo para a iniciação, muito por causa
do próprio mester Maçon, daí ser mais frequente a iniciação de homens. A
revolução do mundo, a existência de um Mundo Moderno, proporcionou uma maior
igualdade entre os sexos.1
Com o passar dos tempos, esta questão
da maior igualdade entre os sexos foi também abordada na Maçonaria, tendo mesmo
sido redigido um opúsculo em 1914, pela Irmã Ana de Castro Osório, intitulado
de “Resposta a uma Consulta”. A
questão colocada foi a seguinte: “Qual a influência da mulher no actual momento
histórico e qual o seu papel no passado e no futuro da Maçonaria Portuguesa?”.
Esta questão tinha sido previamente colocada a Ana de Castro Osório por uma
revista francesa de sociologia. Foi assim elaborado um questionário a vários
Maçons influentes e as respostas foram maioritariamente favoráveis à entrada
das Mulheres no mundo Maçónico, sendo salientada a importância da igualdade
entre Homens e Mulheres dentro de cada Obediência.2
Tendo estes aspectos como precedentes,
o início da Maçonaria Feminina em Portugal deu-se com as primeiras 4 Mulheres
Portuguesas da futura Grande Loja Feminina de Portugal, iniciadas em França no
dia 3 de Outubro de 1982. Em 1983, instalada a primeira Loja Portuguesa, chamada
de "Unidade e Mátria", que começou o recrutamento das Mulheres Portuguesas
para a construção da Grande Loja. A 6 de Maio de 1983, surgiu a segunda Loja
Portuguesa (uma existiu nos primórdios do século XX) se apenas contarmos com as
Lojas femininas independentes. Depois de um período de reuniões preparatórias,
a Maçonaria Feminina em Portugal recebeu “luz verde”, tendo como fundadoras
mulheres pertencentes à Grande Loja Feminina Francesa. A Loja “Unidade e
Mátria” foi crescendo e como já tinha iniciado 33 irmãs, pôde dispensar a
presença das suas fundadoras. Surgiram mais duas Lojas, ambas a 21 de Fevereiro
de 1988: a Loja Lusitânia, a Oriente de Lisboa que contou com 15 fundadoras das
quais 4 eram portuguesas, embora ainda sem ofício; e a Loja Invicta, a Oriente
do Porto, com 14 fundadoras, das quais 6 eram portuguesas mestras já com
ofícios. Integravam esta última Loja duas companheiras portuguesas, também como
adjuntas de ofícios. Todas as fundadoras eram diferentes o que significava que
se empenharam 19 mestras francesas e dez mestras e duas companheiras portuguesas
nesse trabalho. Estavam criadas as condições, para, com o desenvolvimento
destas duas Lojas, se começar a preparar a Obediência. Enquanto isso, também em
22 de Fevereiro de 1992, criava-se uma quarta Loja: a Oriente da Figueira da
Foz, a Loja Claridade que já não necessitou de auxílios exteriores. Foram 17 as
fundadoras, das quais já só duas eram francesas, ou antes, portuguesas da GLFF
(abreviatura para Grande Loja Feminina Francesa).3
Foi assim que, em 1993, haviam já
sido iniciadas em Portugal 88 mulheres, e que se começou a planear a criação da
Grande Loja Feminina Portuguesa. A partir de 21 de Dezembro de 1994, com
diversas reuniões entre as 4 Veneráveis das Lojas, foi feito o arranque final
com a ajuda directa da GLFF. Durante um ano, os primeiros passos foram, como
era natural, hesitantes. Até que em Janeiro de 1996, houve uma reunião com
várias irmãs da Grande Loja Feminina Francesa, onde foram fixadas as condições
e as regras para a estruturação da Obediência em Portugal. Foi constituída uma
Comissão de Coordenação de 12 Mestras, cada Loja tendo elegido, em sessão e por
voto secreto, 3 Mestras com mais de três anos. Esta Comissão tinha por mandato
elaborar os termos da Constituição da futura Obediência e de os submeter a uma
Assembleia Geral, onde seriam convocadas todas as Mestras. O projecto de
Constituição foi aprovado na Assembleia Geral (ainda que sofresse pequenas
modificações propostas pelo Conselho Federal da GLFF) e o pedido de patente
assinado nesse dia pelas 4 Veneráveis em exercício foi enviado à GLFF. Após
estudos feitos, a GLFF aprovou, por fim, a criação da Obediência Portuguesa no
seu Congresso de Setembro de 1996. A 7 de Dezembro, o Conselho Federal aprovou
também a data de 29 de Março de 1997 para a entrega da patente. Foram desde então,
levantadas colunas de mais sete Lojas, em Lisboa, em Leiria, em Coimbra e em
Évora. Até ao passado Congresso de Setembro de 2006, tinham sido iniciadas nas
Lojas Portuguesas 339 mulheres, sem contar com as 4 iniciadas em França. Mas na
Obediência, hoje, estão cerca de 250 mulheres, que dão continuidade ao trabalho
cuja força e vigor é sustentada por todas as que estão e que viram a estar
presentes na irmandade. O que se pretende é encontrar na fraternidade o apoio
de que todas as irmãs precisam e desenvolver a procura pelo aperfeiçoamento
espiritual e moral de cada uma e da humanidade. Citando Fernando Pessoa: “Deus
quer, o Homem sonha, a obra nasce”. É preciso acreditar que os movimentos
cósmicos não param e tudo o que for negativo tornar-se-à positivo, em
consequência desses mesmos movimentos. É necessário saber recusar as forças
negativas, as quais devemos não temer nunca, e abrir caminho às forças
positivas, nas quais devemos nunca deixar de acreditar. Essas forças estão
dentro de nós, fazem parte de nós e o importante é nunca nos esquecermos delas.
Como é historicamente conhecido, o pensamento Maçónico «teve origem em si-mesmo»,
isto é, foi-se formando porque rejeitava os maus sentimentos e queria
desenvolver os bons.
É de referir que a primeira Loja
feminina a levantar colunas em Portugal, sob os auspícios da Grande Loja
Feminina de França em 1983, a Loja Unidade e Mátria, foi constituída sob alçada
do Rito Francês. A segunda Loja da Obediência Feminina, a Loja Lusitânia, foi
constituída sob o Rito Escocês Antigo e Aceite. Actualmente a Grande Loja
Feminina de Portugal, que tem existência desde Março de 1997 por patente da
GLFF, é constituída por 12 Lojas: duas em Rito Francês e dez em Rito Escocês
Antigo e Aceite.4
Quanto ao início da Ordem Maçónica
Mista em Portugal, diz-se que o Direito Humano existe
desde 1923 (então Loja da Humanidade), mas esteve “adormecido” durante o
período do Estado Novo. Esta obediência ressurgiu depois, em 1980, através de
um conjunto de membros que foram iniciados e constituíram uma Loja que
denominaram por "Humanidade", em homenagem à que tinha existido na I
República.
Actualmente, o Direito
Humano tem lojas a funcionar em Lisboa, no Porto, em Évora, em Alcobaça, em
Vila Nova de Gaia e em Braga, tendo entre os seus princípios orientadores a
afirmação da "igualdade essencial do Homem e da Mulher". A Ordem
Maçónica Mista Internacional do "Direito Humano" vai elevar a sua
obediência portuguesa ao estatuto de federação - o grau máximo atribuído a um
país no plano organizativo. Até agora, esta Obediência Maçónica Mista, que
integra nas mesmas lojas Homens e Mulheres, teve apenas o estatuto de
jurisdição, estando directamente dependente do Supremo Conselho Francês.5
Ana Cristina Santos
Fontes:
1-
CARVALHO,
ANTÓNIO CARLOS – Para a história da MAÇONARIA em Portugal 1913-1935. Editorial
Vega 1976. Consultado a 5 de Dezembro de 2013, pelas 19h
2
– Idem
3-
Grande Loja Feminina De Portugal. Acedido em http://www.glfp.pt/glfp/glfp.htm,
no dia 6 de Dezembro de 2013, pelas 15h
4-
Grande Loja Feminina De Portugal. Acedido em http://www.glfp.pt/glfp/glfp.htm,
no dia 6 de Dezembro de 2013, pelas 18h
5-
Maçonaria: "Direito Humano" de Portugal
elevado sábado ao grau máximo de federação. Acedido em http://expresso.sapo.pt/maconaria-direito-humano-de-portugal-elevado-sabado-ao-grau-maximo-de-federacao=f186093#ixzz2lXNMCfNa,
no dia 7 de Dezembro de 2013, pelas 11h
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