Com uma entrada alusiva às cores da bandeira portuguesa em que o vermelho predominava sobre o verde, a simbologia da bandeira da República Portuguesa não passou despercebida e fez-se notar. Enquanto a ‘esperança da nação’ era menor representada em relação ao seu ‘sangue’, toda uma omnipresença foi vincada. Até a carpete era vermelha.
“Muitos são os portugueses que
afirmam nos últimos dias que gostavam de ter a oportunidade de fazer uma
pergunta a quem nos governa, desde logo ao primeiro-ministro. É precisamente o
que vai acontecer agora. Hoje. Neste estúdio” iniciou Carlos Daniel. O país
pergunta e Pedro Passos Coelho responde.
Helena Sá Medeiros, de 60 anos,
aposentada da Função Pública foi a primeira feliz contemplada. Começa por
nomear o primeiro-ministro como um “poço de contradições” ao mesmo tempo que
refere que o mesmo em campanha eleitoral “defendia que não ia aumentar os
impostos, cortar as reformas dos reformados e pensionistas, que não iria baixar
rigorosamente nada que baixasse o nível de vida adquirido ao longo dos anos com
trabalho que todos nós tivemos, nomeadamente os aposentados ... disse também
que a constituição tinha de ser
alterada”. Posto isto, a sua pergunta dirige-se para a posição do primeiro-ministro
face à realidade vivida pelos portugueses e se “estas contradições são algo
parecidas com a irreversibilidade do senhor Paulo Portas?”.
Pedro Passos Coelho começa sereno, a
olhar atentamente nos olhos da senhora, com o seu fato impecável com uma
gravata azul clara e um pin da bandeira de Portugal do lado direito. “São
muitas perguntas não é? Mas eu vou tentar responder”.
Começa por
defender o valor monetário para a ajuda monetária do povo lusitano, para os
três anos, acordado no Memorando de Entendimento da Troika, como
obrigatoriamente suficiente para viver durante o mencionado período de tempo
como também deverá preparar o país para regressar à normalidade em termos de
financiamento. “Temos de viver com um envelope fechado. Não temos mais dinheiro
que aquele para gastar. As nossas despesas têm de se conter dentro desse
envelope financeiro portanto as medidas que temos vindo a fazer para todo a
redução da despesa pública visam justamente que o país possa viver com aquilo
que lhe foi emprestado. Ora, nós vivemos em Portugal uma situação em que a
despesa pública tem uma repartição conhecida. Nós não podíamos manter o país
com um défice orçamental na casa dos 10% que era rigorosamente o défice que
tínhamos quando iniciámos funções e tínhamos de reduzir esse défice. O corte
das despesas teve de ser feito para que nós pudéssemos, de certa maneira,
voltar a ganhar acesso a mercado e ter
confiança dos investidores. Para isso tivemos de baixar salários e introduzir
uma contribuição extraordinária de solidariedade” prolonga-se Pedro Passos
Coelho.
O moderador interrompe pouco tempo
de discurso depois e, politicamente correto,
pede para que o primeiro-ministro falasse das pensões: “Porque é que é
preciso continuar a cavar no sector dos aposentados e dos reformados e ser
preciso ir buscar mais dinheiro a estas pessoas?”. Empenhado em recuperar o
país, Pedro Passos Coelho insistiu na importância do cumprimento das metas do
défice para Portugal, com a aposta na redução dos salários e das pensões como
algumas das propostas viáveis para o efeito. Para além disso, faz um humor
negro sobre esta questão “Não estamos a ir buscar mais. Estamos a ir buscar
menos”.
Teresa Carneiro, 41 anos, empresária
da restauração faz a próxima pergunta. Contesta a dificuldade em cumprir
obrigações fiscais com o aumento do IVA
de 13% para 23% no sector onde trabalha. Pedro Passos Coelho decide
falar de uma dimensão psicológica da quebra de consumo ao nível da restauração
mas quando questionado pelo moderador se eliminava totalmente qualquer hipótese
de mexer no IVA ao longo do próximo ano, este responde. “Não estou a eliminar
essa hipótese. Estou simplesmente a não alimentar uma expectativa à volta
disso. Nós dentro do Governo iremos discutir essa matéria no conselho de
ministros (...) Não podemos perder receita em toda a linha com muita
transparência lhe devo dizer” – termina.
Os seguintes “cidadãos anónimos” a
questionar Pedro Passos Coelho focaram assuntos como o ensino e a
social-democracia da mesma (neste último ponto, uma professora
desempregada provoca o PM e propõe-lhe um exercício em que subtraia 1100€ ao valor
das propinas dos dois filhos bem como do alojamento, alimentação e outras
despesas), a extinção dos governos civis, a paragem da construção do túnel do
Marão e o agravamento nas desigualdades territoriais, o desemprego jovem, a
reforma da função pública e do Estado, obrigações do serviço público de
transporte aéreo entre ilhas e o continente, o Sistema Nacional de Saúde, os
julgados de paz, o preço dos combustíveis, as dificuldades da agricultura, as
medidas do OE 2014 para combater a queda da natalidade e o envelhecimento da
população, a carga fiscal nas regiões autónomas e os custos de insularidade, a
participação dos jovens na actividade política, as dificuldades sociais e as
redes de apoio nesta crise económica. Por último, António Leal, Técnico Oficial
de Contas, decidi usar o último tempo de antena disponível para perguntar ao PM
se se sentia a pessoa mais habilitada para conduzir o destino dos portugueses.
A resposta não tardou em chegar.
“António, eu fui escolhido como PM
talvez na época mais difícil que o país passou desde 1974 seguramente e tenho
procurado na minha acção estar à altura destas dificuldades de modo a garantir
tanto quanto depende de mim aos portugueses que nós ultrapassaremos este período
extraordinário que estamos a viver e que conseguiremos retomar a nossa
economia”. “Aqueles que nos emprestaram dinheiro fizeram uma avaliação de forma
positiva, o que significa que acreditam que vamos pagar aquilo que devemos e
que vamos conseguir recuperar desta crise”. “Quando me candidatei a
primeiro-ministro tinha várias decisões importantes”. “Antes de ser PM, me
comprometi e por escrito a executar este Memorando de Entendimento (‘isso é
discutível’, ouve-se de Carlos enquanto Passos Coelho fala) que os portugueses
conhecem e é isso que eu estou a fazer e com resultados favoráveis que se
esperam e que nos dão garantia de recuperar a nossa autonomia”.
O moderador perguntou ainda se o PM
nunca tinha pensado em desistir, o qual responde que não. “Aquilo que me anima
todos os dias é a possibilidade de poupar o país a uma consequência desastrosa
de qualquer crise política ou do incumprimento das obrigações a que nos
comprometemos” continua.
Durante 90 minutos, com intervenções
informativas vagas e gerais, nada responde em concreto. Nada que já não se
saiba. Nada que já não tenha sido transmitido pelos meios de comunicação
social. Falou de grandes sacríficos para a vida dos portugueses. Falou de uma
nova vaga de austeridade. Falou de uma previsão de 0.8% de crescimento na
economia para 2014.
Outrora falou também da diminuição
do desemprego jovem. O factor que deixou escapar foi o aumento da emigração
portuguesa, especialmente dos milhares de jovens que saem do país (os números
indicam que 120 mil portugueses saíram de Portugal só em 2012) ou dos trabalhos sazonais que ocorrem no Verão. Estas realidades são fortes
o suficiente para contribuir para uma diminuição significativa do desemprego
jovem.
Neste mesmo dia, num pedido de
esclarecimento sobre o corte nas pensões de sobrevivência anunciado pelo
Governo, Heloísa Apolónia acusa o governo português de não demonstrar
"nenhuma ética na política” e de andar “permanentemente a fazer das
pessoas tolas e os portugueses já estão fartos". E as suas declarações
foram unânimes na opinião pública. Entre frustrações e falta de respostas, os
portugueses sentiram que o primeiro-ministro não usou o seu tempo de antena
para esclarecer o país sobre rigorosamente nada. As perguntas consideradas
mais interessantes foram as colocadas pelo próprio moderador. Aliás, o
próprio modelo de programa faz com que não haja respostas. Foi também transparente a posição
que Pedro Passos Coelho toma quando faz transparecer que "se ele falha,
falha o país".
Com uma audiência média de 10,8%,
esta não foi suficiente para conquistar a liderança da RTP durante os 90
minutos de emissão do programa e atingir um interesse mediático. A liderança
manteve-se na SIC e na TVI com 12% (de audiência) cada.
Visto por mais de um milhão de
portugueses, o país pergunta e não gostou.
Fontes:
RTP1
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3469265&seccao=Dinheiro%20Vivo
visitado às 23h14 de 15-10-13
https://www.facebook.com/pages/Partido-Ecologista-Os-Verdes/190235157666665?fref=ts
visitado às 22h30 de 15-10-13
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.