sábado, 28 de setembro de 2013

O sprint final do eterno candidato


Em Janeiro de 2013 António Costa deixava pairar um certo mistério quanto à possível e muito provável recandidatura à liderança da Câmara Municipal de Lisboa, deixando a ambição de Fernando Seara a uma liderança de direita aflorar. Todavia, Costa avançou com a candidatura e, a menos de três dias das eleições a aposta socialista parece ter dado frutos: o Partido Socialista não só consegue ter novamente uma maioria absoluta como também consegue reforçá-la, crescendo 4% nas intenções de voto em relação aos resultados obtidos em 2009.1

Possivelmente antevendo o descontentamento popular face às políticas seguidas pela coligação, contando com uma penalização na hora do voto, assim como os resultados dos partidos de direita coligados até agora obtidos em sondagem (desce 12% nas intenções de voto face a 2009) o ainda Presidente da Câmara Municipal faz uma campanha feroz na esperança de alcançar uma maioria absoluta numa das autarquias com mais expressão do país.

Deste modo, o intuito de Costa alia-se ao intuito do PS: tirar uma leitura nacional dos resultados eleitorais autárquicos. Esta tem sido uma das grandes linhas argumentativas do PS e dos seus autarcas ao longo de toda a campanha eleitoral, tendo como objectivo principal contrariar o discurso de relativização dos parcos resultados que podem vir a ser os dos partidos de direita e ainda demonstrar que o PS é uma alternativa forte às políticas até ao momento assumidas.

“Dêem-nos força para conseguir para Lisboa as competências que ainda estão no Estado e que devem passar para a autarquia, dos transportes públicos ao policiamento de transito”2 diz Costa, sendo bem visível a tónica posta no combate às políticas de direita protagonizadas pelo executivo, veiculando que é a nível local que se deve contrariar as medidas e as políticas impostas e que a oposição começa, antes de mais, ao nível mais micro da política nacional e não apenas no Parlamento.

No último dia de campanha legal, Costa apela ao voto útil, concluindo o seu alcance de ataque a todo o espectro político. Desta feita, os alvos são os partidos mais à esquerda (PCP e BE), que diz seguirem a linha do “extremismo sectário” e que “demonstra que temos de ter a maioria por nós porque depois já sabemos como é o Bloco de Esquerda - nunca se consegue determinar sozinho sem ir à boleia do PCP”, recusando os “votos de simpatia” nestes partidos, que impediriam a conquista de uma maioria absoluta e que dificultariam a acção e o processo governativos num momento em que é crucial haver uma continuidade de projecto.3

Descodificando, Costa veicula ao eleitor a noção de que é a única alternativa viável para a continuação de um projecto em Lisboa: de um lado, a coligação de direita liderada por Fernando Seara representa um executivo que governa mal sem atender às necessidades dos portugueses, logo, dos lisboetas; do outro, uma esquerda que não faz concessões nem se dispõe a colaborar.4

Retomando o início do ano e o mistério da candidatura de Costa a Lisboa, lembremo-nos da guerra fratricida entre este e António José Seguro ainda no ano de 2012 quanto à liderança do PS e às tensões entre a facção mais socrática e mais esquerdista do partido (liderada por Costa) e a facção apoiante de Seguro. Tal parece ter desvanecido, como seria de esperar, pela necessidade imperiosa que o PS tem em ganhar a Câmara de Lisboa, sendo igualmente imperioso apresentar ao eleitorado um PS forte e unido até nas suas mais profundas fracturas internas.

Seguro e Costa fizeram campanha juntos em Lisboa, no Chiado, demonstrando sinais de amizade e afecto mútuo e “mesmo as hostes de ambos os socialistas se misturavam na comitiva da campanha”.5

A importância de fazer passar a imagem de um partido responsável, maduro politicamente e unido internamente convém muito ao PS e ao próprio António Costa, que se demonstra muito engajado na sua recandidatura e que desta forma parece tranquilizar o eleitorado socialista que poderia temer uma eventual saída e a perda do seu escolhido para o cargo de líder socialista.

No entanto, será que a candidatura à Camara Municipal denota um recuo em relação a uma possível candidatura á liderança do PS? É preciso ter em mente que uma acumulação de cargos não é inédita, tendo já Jorge Sampaio acumulado o cargo de Presidente da Câmara de Lisboa com o de líder do PS na oposição em 1989.

Quanto a isto, Costa esquiva-se respondendo apenas que “o presidente de câmara é uma espécie de provedor” 6 parecendo não fechar completamente a porta a uma liderança da bancada socialista.



                                                                         Joana Lemos


Fontes:
1 Carlos Freire, Manuel, Lisboa: António Costa reforça maioria absoluta, publicado a 27 Setembro 2013, in Diário de Notícias Política, www.dn.pt, consultado a 27 Setembro 2013, 22:13

2 Programa de Governo da Cidade de Lisboa, 5 Marcas fundamentais para os próximos quatro anos, in http://www.juntosfazemoslisboa.pt/, consultado a 26 Setembro 2013, 21:48

3 Lusa, António Costa pede “maioria muito expressiva” em Lisboa, publicado a 25 Setembro 2013, in Público – Autárquicas 2013, , consultado a 26 Setembro 2013, 23:00

4 Lusa, António Costa alerta para “excesso de confiança” na votação em Lisboa, publicado a 26 Setembro 2013, in Jornal i, www.ionline.pt, consultado a 26 Setembro 2013, 23:55

5 Sá Lourenço, Nuno, “Está feito”, desabafou Costa. “Agora descansa”, pediu-lhe Seguro, publicado a 26 Setembro 2013, in Público – Autárquicas 2013, www.publico.pt/politica, consultado a 27 Setembro 2013

6 (Reportagem radiofónica) Baldaia, Bárbara, António Costa não vai entregar qualquer pelouro a Fernando Seara, publicado a 27 Setembro 2013, in Tsf, www.tsf.pt, consultado a 27 Setembro 2013, 19:37

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