sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Os Mesteres e a Arte



            A Maçonaria é uma organização de iniciados que tem com base um Mester (um operário, um oficial mecânico por assim dizer). Como salienta o autor René Guénon, “a conexão com o Mester se deixou de existir quanto ao exercício exterior, não deixa de subsistir de modo mais essencial, permanecendo necessariamente inscrita na própria forma desta iniciação; se acabasse por ser eliminada Não seria mais a Iniciação Maçónica, mas antes qualquer outra coisa diferente, e como seria, por outro lado, impossível subsistir legitimamente outra filiação tradicional à que existe de facto, não haveria então qualquer Iniciação”.1 Segundo as ideias de Luc Benoist, a possibilidade do Homem integrar-se numa tradição que confira a cada Mester um significado superior acaba por tornar a actividade do indivíduo menos penosa e fatigante. Com este significado superior, o Mester tornar-se-ia parte do próprio Homem, servindo-lhe de base à sua Iniciação e permitindo-lhe uma elevação muito além da individualidade temporária. A actividade do artista torna-se a expressão exterior e mais consciente dos seus próprios princípios.

            As artes e os Mesteres constituem assim uma linguagem simbólica. “O artista e o esteta (individuo que que aprecia e pratica o belo como um valor essencial) nasceram em simultâneo no que foram as ruínas dos antigos Mesteres. O Maçon não é um artista, mas sim o artesão perfeito que soube talhar a pedra em bruto e dar-lhe uma nova forma, uma forma cúbica e preliminar, tal como os seus Mestres Maçons medievais o fizeram. O primeiro objecto, o seu fabrico, aparece como um rito e a noção de arte consistia em fazer todas as coisas necessárias ao corpo de uma forma a que contentassem também o espírito.

            Ser-se Mester é uma vocação, é adaptar-se naturalmente ao Homem fazendo parte de si e conduzindo-o a um caminho de Luz e de Conhecimento. Um Homem sem Mester nada conhece verdadeiramente no seu interior e não passa pela própria transformação de si mesmo. Pode concorrer para elevar a harmonia que o rodeia e a sua própria, empregando um elemento supra-humano à semelhança de como Deus criou o Homem com o seu sopro subtil e supremo. Uma forma de refazer a criação era, para os Maçons, a construção de Igrejas que tornavam-se na criação de um novo mundo, de um novo começo. A importância desta associação da Igreja a um novo mundo, dá-se pois esta é vista como um símbolo cósmico, um modelo natural de toda a arquitectura. A função verdadeira de um Mester era aproximar a consciência de que o artesão trabalhava com o Grande Arquitecto do Universo o que o tornaria também um genuíno criador.2

                                                                                                        

Ana Cristina Santos


Fontes:


1 - CARVALHO, ANTÓNIO CARLOS – Para a história da MAÇONARIA em Portugal 1913-1935. Editorial Vega 1976. Consultado a 31 de Outubro de 2013, pelas 20h

2- Idem

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