As últimas semanas da governação costista em Lisboa foram marcadas por uma
acesa discussão e luta partidária quanto à liderança do Conselho da Área
Metropolitana de Lisboa e a presença de Costa em várias frentes de batalha
enquanto figura assinalada para possíveis cargos electivos continua a ser um
assunto em voga, desde a liderança do Partido Socialista à Presidência da
República.
Quanto à área metropolitana de Lisboa, esta
regista a maior concentração populacional e económica de Portugal, perfazendo
18 conselhos onde residem quase 3 milhões de habitantes isto é, cerca de ¼ da
população portuguesa. Já a nível económico, concentra em si 25% da população
activa do país assim como 30% das empresas nacionais que contribuem para mais
de 36% do Produto Interno Bruto e que se mantêm nesta área do litoral onde é
mais fácil desenvolver actividades económicas pela proximidade com dois grandes
portos nacionais: Lisboa e Setúbal. É então uma região com relevo a nível
internacional e com potencialidades competitivas.
A vitória em Lisboa tem ajudado a consolidar
o protagonismo político de António Costa, que no final de Outubro viu o seu
índice de popularidade aumentar para valores recorde, com 56% dos inquiridos a
afirmarem a sua preferência por Costa enquanto próximo líder do Partido
Socialista, ao passo que Seguro está em processo de decadência atingindo o
nível de popularidade mais baixo de sempre, com apenas 13 % das preferências.
Assim, Costa parece aproveitar este momento de fraqueza para conquistar
mais pontos, principalmente através da chefia do Conselho da Área Metropolitana
de Lisboa, onde o PCP contesta veementemente a vitória do Presidente da Câmara.
Deste modo, a grande disputa reside na interpretação da lei, nomeadamente da
alínea 2 do artigo 105º do Regime Jurídico das Autarquias Locais que defende o
seguinte:
«As deliberações do conselho
metropolitano e do conselho intermunicipal consideram-se aprovadas quando os
votos favoráveis dos seus membros correspondam, cumulativamente, a um número
igual ou superior ao dos votos desfavoráveis e à representação de mais de
metade do universo total de eleitores dos municípios integrantes da área
metropolitana».
Quem apoia Costa defende que a eleição do
Presidente do Conselho é um assunto de deliberação, indo por isso ao encontro
deste artigo e dando razão e legitimidade à vitória por este conquistada, pois
Costa teve uma maioria de votos nesta eleição, assim como uma maioria de
votantes dos municípios da área metropolitana. No entanto, o PCP tem
manifestado desagrado com sucessivos abandonos em reuniões pelo facto de crer
que a eleição para a Presidência do Conselho Metropolitano de Lisboa não se
configura como um assunto deliberativo, sendo a utilização deste artigo para
legitimar a vitória de Costa ilegal. O PCP acrescenta ainda que que a lei
apenas diz que o Conselho tem de eleger o seu Presidente e os seus
Vice-Presidentes admitindo até recorrer aos tribunais devido a tão profunda
discórdia sobre o método de eleição.
A interpretação desta lei por parte de
António Costa e dos socialistas da área metropolitana pode ter sido utilizada
por estes para alcançar uma maioria no executivo do Conselho pois caso tal não
se desse teria de se começar a fazer acordos de governabilidade e coligações
entre os vários partidos, sendo que o parceiro natural seria o PCP pelos
resultados obtidos nas autárquicas em Setembro.
Depois de saído o novo regime jurídico
das autarquias locais e com a alteração da forma de eleição (a regra do voto
único e intransmissível para cada câmara já não vigora) Costa defende que cada
câmara deve ter um voto específico consoante as suas características, sendo que
a mais importante é a populacional. Assim, este argumento é também favorável a
Costa visto que Lisboa concentra uma parte significativa da massa populacional,
assim como parte dos negócios importante e outras actividades comerciais.
Outro problema ligado a esta questão
provém do binómio número de câmaras- número de votantes. Deste modo, o PCP
argumenta que, por ter mais câmaras na área deve ter preferência para eleição
na presidência, já os socialistas argumentam que a presidência se deve pautar
pelo número de eleitores, sendo que as suas câmaras, ao todo, albergam mais
habitantes que as conquistadas pelo PCP. De lembrar que os nove municípios que
deram a vitória a António Costa representam 67% dos eleitores enquanto as nove
câmaras da CDU representam os restantes 33%.
É nesta diferença entre maioria de
eleitores e maioria de câmaras que reside também o motivo da discórdia, sendo
que a CDU defende o modelo seguido na Área Metropolitana do Porto, em que
apesar de o PS ter a maioria de eleitores nas câmaras que conquistou, o
Conselho decidiu entregar a presidência ao PSD, que tem uma maioria de câmaras,
pois apesar de, em Lisboa, o PS ter o maior número de eleitores, a CDU tem o
maior número de câmaras.
Retomando o
assunto da necessidade de intervenção concertada e de acordos universais entre
actores políticos, Costa critica duramente o modelo de debate quinzenal
utilizado na Assembleia da República pois configura uma dinâmica que destrói
uma possível vontade de consenso. Na sua óptica, os debates são “coreografados
para serem um duelo entre matadores” em que o Primeiro-Ministro e o líder da
oposição se tentam prejudicar mutuamente, e que só contribui para a “deterioração
cada vez mais acentuada das relações entre os principais locutores políticos”,
pois, como o próprio afirma “as democracia e os consensos não se conseguem com
duelos”.
Assim, o
modelo de debate quinzenal “é uma das invenções mais estúpidas que a Assembleia
da República fez nos últimos anos”, sendo que esta foi uma medida proposta,
criada, defendida e idealizada por António José Seguro. A
proposta foi aprovada em 2007, ainda numa legislatura em que José Sócrates era
Primeiro-Ministro, e inscreve-se no art. 72º do Regimento da Assembleia da
República tendo como nome “Debate de Actualidade”. O regimento afirma que “em
cada quinzena pode realizar-se um debate de actualidade a requerimento
potestativo de um grupo parlamentar” (alínea 1).
Apesar de, nos termos da lei, esta ser uma
ideia dinâmica e beneficiar o diálogo interpartidário, num segundo momento e
depois de se avaliar a prática parlamentar portuguesa a conclusão que se pode
tirar é a de que os partidos não utilizam estes debates de actualidade para
alcançar consensos e como Costa afirma este é “um factor que condiciona a
possibilidade da eficácia da consensualização política”. 1
Quanto à Presidência da
República e às eleições para 2015, e com Cavaco Silva já fora da corrida por
impossibilidades de acumulação de mandatos pois este já é o seu segundo
mandatos desde 2006, aí coabitando com um Governo socialista, António Costa
surge como uma grande oportunidade da esquerda.
Com 26,6% das intenções
de voto, ainda que acompanhado de perto por António Guterres, Costa perfilha-se
como grande sucessor de Cavaco Silva, ou pelo menos seria essa a escolha da
maioria dos portugueses que votassem na esquerda. O candidato de peso da
direita é Marcelo Rebelo de Sousa que tem vindo a conquistar apoios de todos os
quadrantes da sociedade.
Joana Lemos
Fontes e links de consulta
1 António Costa classifica de “estúpida”
a invenção de Seguro
in Diário Digital http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=667465
- Sondagem – Costa e Marcelo favoritos nas presidenciais in Expresso http://expresso.sapo.pt/costa-e-marcelo-sao-favoritos-nas-presidenciais=f840112#ixzz2kplS3COl
- Regime Jurídico das Autarquias Locais, in Diário da República http://dre.pt/pdf1sdip/2013/09/17600/0568805724.pdf
- Sondagem- PS sobe em Novembro in Expresso http://expresso.sapo.pt/ps-sobe-em-novembro=f839984
- António Costa: debates quinzenais são “ideia estúpida” in TSF http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=3521726
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