No contexto das centrais sindicais, optamos pela
análise da CGTP-IN, considerada por muitos especialistas como a maior
organização social do país. Neste sentido, recolhemos algumas posições públicas
desta central, de natureza político/sindical, assumidas ao longo das últimas
semanas, quer por intermédio do seu secretário-geral, quer por sindicatos seus
filiados
Tratando-se de uma central sindical em que
maioritariamente predominam dirigentes sindicais comunistas, tem-se
caraterizado esta organização como uma espécie de ‘corrente de transmissão’ das
posições do PCP. Contudo, quem por norma adota este tipo de linguagem
esquece-se, deliberadamente ou não, que são os trabalhadores nas empresas e
locais de trabalho que elegem os seus representantes para os respetivos
sindicatos que, por sua vez, indicam quais os elementos aos órgãos dirigentes
da CGTP-IN, eleitos democraticamente de 4 em 4 anos em Congresso.
À parte das considerações iniciais, evidencia-se atualmente pela CGTP-IN
um combate sem tréguas à política do Governo, sustentado pelo PSD e CDS-PP. O
facto de estarmos num momento de campanha eleitoral, mais importância revela a
estratégia assumida por esta central sindical, ou seja, no constante
enfraquecimento do governo e das suas opções políticas, sempre escudadas no Memorando de Entendimento celebrado em
2011, mas revelando inequivocamente na sua essência uma clara opção ideológica.
Contudo, a estratégia da CGTP-IN, além das questões subjetivas, tem
raízes em problemas objetivos de profunda gravidade. Muitas das medidas
implementadas pelo Governo PSD/CDS-PP, têm penalizado duramente os
trabalhadores portugueses, do sector público e privado, mas também os
reformados e/ou aposentados, os trabalhadores desempregados ou os jovens que
procuram pela 1ª vez entrada no mercado de trabalho. Neste sentido, as posições
da CGTP-IN assumem-se claramente contra estas políticas e exigem
simultaneamente a rotura com as mesmas. A reivindicação em torno da demissão
deste Governo e a convocação de eleições antecipadas, tem sido nota corrente
nas declarações dos responsáveis da CGTP-IN.
«O
sindicalista [Arménio Carlos] considerou que o Executivo "é um Governo fora da lei, é um
Governo que precisa de ser substituído, e é um Governo que continua, em vez de
responder àquilo que são as necessidades do país e os interesses e anseios da
população, continua persistentemente a atacá-los".»[1]
Procura-se assim, face às próximas eleições do dia 29
de Setembro, uma forte penalização eleitoral dos partidos que defendem, aplicam
e desenvolvem uma política contrária aos interesses do mundo do trabalho. A
conotação da realidade nacional à realidade local, como indissociáveis, está
igualmente presente na ação desenvolvida pela CGTP-IN.
«Arménio Carlos assegura que o país precisa de políticas de esquerda. (…)
o secretário-geral culpou o governo e o Presidente da República pela situação
do país e acusou o executivo de ter medo de eleições.»[2]
A
CGTP-IN, coerente com as suas premissas, desenvolve simultaneamente uma forte
ação reivindicativa, considerando que se aproxima a discussão em torno do
Orçamento de Estado para 2014, consubstanciado, pelo que se conhece, em novas
medidas de austeridade. Neste sentido, anuncia-se que em «setembro vão ser
realizados plenários de dirigentes e ativistas sindicais da CGTP em todo o país
para discussão da proposta reivindicativa e de ação.»[3]
Conhecendo
algumas das intenções do Governo, como a muito propalada ‘convergência das pensões’
[da CGA com as da Segurança Social], a CGTP-IN marca posição indubitavelmente
contra estas novas medidas. Desenvolve ações concretas de esclarecimento e de
luta de rua, onde implícita e recorrentemente, está a necessidade de demitir o
Governo de Paulo Portas e Passos Coelho. «"Os trabalhadores e os pensionistas estão a ser
confrontados com um novo ataque às reformas, por isso, a CGTP decidiu fazer
esta campanha contra o roubo nas pensões e o aumento da idade da reforma",
disse Arménio Carlos em conferência de imprensa.»[4]
A Frente Comum
dos Sindicatos da Administração Pública, da CGTP-IN, realiza a 25 de Setembro
uma jornada de luta nacional envolvendo os aposentados e reformados, dando
expressão de rua à ação reivindicativa supramencionada.
A CGTP-IN
denúncia a constante subserviência do Governo aos ditames da troika. Na última
avaliação das organizações internacionais em solo português, criticaram
duramente a ausência de vontade política, quer interna, quer externamente, em
reconsiderar um conjunto de metas, irreais face às condições económicas e
sociais do país que, caso sejam executadas, agravarão inevitavelmente a atual
situação, já de si extremamente precária. A CGTP-IN refere que no «encontro, os
representantes da troika não tiveram em consideração as opiniões e propostas da
CGTP-IN, nem tão pouco em discuti-las. Fizeram deste encontro uma farsa!»[5]
Num plenário nacional
de delegados e dirigentes sindicais, envolvendo dois dos sindicatos afetos à
CGTP-IN [da administração local], realizado no passado dia 20 de Setembro,
pode-se ler numa das resoluções aprovadas o seguinte:
«(…) assumem como imperativo de participação no próximo dia 29 e
de combate contribuir para a derrota dos responsáveis por estas políticas de
destruição do País.»[6]
Reconhece-se deste modo, a importância dos
trabalhadores em exercer o seu direito ao voto, como uma ‘arma’ ao seu dispor,
demonstrando a sua insatisfação e indignação perante as políticas assumidas
pelos partidos que suportam o Governo, penalizando-os obviamente nas urnas.
A CGTP-IN e os sindicatos seus filiados procuram
assim, no seu campo de influência, capitalizar em votos nos partidos de
esquerda [não se incluindo aqui o PS] o descontentamento normal e legítimo que
se observa no seio dos trabalhadores, usurpados nos seus direitos e rendimentos
sem memória no Portugal democrático conquistado com a revolução de 1974.
Procura-se no mundo do trabalho, a alavanca que
derrote os partidos da política de direita, como comumente afirma a CGTP-IN. O
empobrecimento generalizado a que assistimos, será uma das principais razões
que deverá motivar os trabalhadores, enquanto parte fundamental em qualquer ato
eleitoral, a votar no próximo domingo por uma verdadeira alternativa em
detrimento da velha alternância, já de todos conhecida.
24
de Setembro de 2013
Luís Dias
Luís Dias
[1] Padrão,
Isaltina, CGTP que o Governo viu
terceiro “cartão vermelho” e deve cair, artigo publicado no Diário de Noticias a 29 de Agosto de
2013, versão eletrónica. Disponível em http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=3394229
[Acedido a 24 de Setembro, às 09h59]
[2] SIC
Noticias, Arménio Carlos garante que PSD e CDS “fogem das eleições como o diabo
na cruz”, artigo publicado a 6 de Julho de 2013, versão eletrónica. Disponível
em http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2013/07/06/armenio-carlos-garante-que-psd-e-cds-fogem-das-eleicoes-como-o-diabo-da-cruz
[Acedido a 23 de Agosto, às 21h46]
[3]
Ferreira, Ricardo Simões, CGTP marca
lutas para Outubro, artigo publicado no Diário
de Noticias a 4 de Setembro de 2013, versão eletrónica. Disponível em http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3403992
[Acedido a 24 de Setembro, às 10h15]
[4] Rádio
Renascença, CGTP acusa Governo de
iniciativa “imoral e inconstitucional”, artigo publicado a 18 de Setembro
de 2013, versão eletrónica. Disponível em http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=1&did=122479
[Acedido a 24 de Setembro, às 10h37]
[5] CGTP-IN,
Reunião com a Troika foi uma farsa!,
posição oficial da CGTP-IN publicada na página oficial da internet a 18 de
Setembro de 2013. Disponível em http://www.cgtp.pt/comunicacao/comunicacao-sindical/6695-reuniao-com-a-trika-foi-uma-farsa
[acedido a 24 de Setembro, às 10h54]
[6]STAL, STAL e STML protestaram em S.Bento contra
retrocesso social, artigo publicado na página oficial do Sindicato dos
Trabalhadores da Administração Local (STAL) a 20 de Setembro de 2013.
Disponível em http://www.stal.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1303&Itemid=1
[Acedido a 24 de Setembro, às 11h37]
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