O
corresponde em Paris do Jornal Expresso, Daniel Ribeiro, escreveu sobre o
ataque às portagens e prefeituras na Bretanha. Os manifestantes intitulados de “Barretes
vermelhos” destruíram diversos pórticos que faziam parte da nova linha de
portagens implementadas pelo governo francês com o objectivo de taxar os
veículos pesados mais poluentes.
Na
análise do jornalista, estas acções visam demonstrar o descontentamento da população, no contexto da crise, que levou a
uma manifestação de assalariados e de um grupo agroalimentar ameaçado de fechar
portas.
Até
aqui tudo decorreu aparentemente normal. Trata-se de mais uma acção igual a
tantas outras, que estão a acontecer um pouco por toda a Europa.
O
dado curioso é que o patrão da empresa também desfilou ao lado dos
trabalhadores, que só veio confirmar o descontentamento geral. No entanto, a turbulência
gerada contribuiu para a indagação de alguns sindicatos e dirigentes da
esquerda, que criticaram a atitude deste senhor.
Após
a suspensão da entrada em vigor das “ecotaxas”, os organizadores das
manifestações aceitaram iniciar um processo de negociações com representantes
do Governo, mantendo em aceso o pedido de retirada da lei, que terá sido
implementado pelo anterior executivo do mandato do ex-presidente Nicolas
Sarkozy.
O
actual Governo socialista de Jean-Marc Ayrault procura encontrar uma saída que
corresponda às expectativas dos manifestantes. Porém, não podemos esquecer que
esta medida terá sido aprovada com maioria Parlamentar e que deverá, deste
modo, entrar em vigor a partir de Janeiro do próximo ano.
Para
além destas, outro tipo de contestações geraram em torno do aumento da
fiscalidade, que o Governo quis impor, a certos produtos financeiros ligados à
poupança dos franceses.
Para
quem não saiba, os “Barretes Vermelhos” da Bretanha foram usados em 1675 pela
população camponesa da região, que se revoltaram na altura, com sucesso, contra
um imposto que, Luís XIV, lhes quis impor.
Actualmente,
são os “Barretes Vermelhos” que constituem a principal preocupação dos
socialistas franceses. Os manifestantes foram à História recuperar o símbolo e
decidiram atribuir um novo significado. [1]
Numa
entrevista concedida à imprensa brasileira, o sociólgo Boaventura do Sousa Santos falou sobre os protestos de Junho
no Brasil, estabelecendo um elo com a democracia, ao mesmo tempo, afirmou que até o socialismo voltar à
pauta política, a população deve ir para as ruas. Nas suas palavras: «Não haverá sociedade democrática enquanto
houver capitalismo». [2]
Quem
também fez referência às manifestações populares foi o Professor Adriano Moreira.
Esta semana num artigo publicado pelo Diário de Notícias, o Professor da “casa”
falou sobre as revoltas populares, remontando à Revolução Francesa. Na sua
opinião, a movimentação da sociedade civil que tem vindo a dar provas de estar
a crescer, demonstra a quebra de confiança nas estruturas públicas, que
conduzem a um comportamento de indiferença de escolha. Isto significa que: «De facto as nossas manifestações populares
parecem ser geradas pelo lembrado conceito de que a única coisa certa é que o
imprevisto está à espera de uma oportunidade (...)].
Deste
modo, a indignação que influencia os movimentos sociais, não se cinge apenas à
camada mais jovem frustrada (neste contexto o Professor compara ao
acontecimento histórico do Maio 68), mas também às restantes gerações que
perderam o descrédito no futuro, que acabam por recorrer de forma incessante às
redes sociais.
Ou
seja, «O povo na rua não é uma comissão
de arbitragem de ideologias que o voto decide, é talvez antes o anúncio de que
o imprevisto está em busca da sua oportunidade.».
Margarida Mendes
8 de Novembro de 2013
Fontes:
[1] Jornal Expresso, 'Barretes vermelhos' atacam portagens e
prefeituras na Bretanha, artigo publicado na página do Jornal Expresso a 4
de Novembro de 2013. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/barretes-vermelhos-atacam-portagens-e-prefeituras-na-bretanha=f839282
[consultado a 8 de Novembro às 14h12]
[2] Caros Amigos, Boaventura: "Não haverá sociedade
democrática enquanto houver capitalismo", entrevista publicada na
página da revista Caros Amigos – A primeira à esquerda a 1 de Novembro de 2013.
Disponível em: http://www.carosamigos.com.br/index/index.php/politica/3674-booaventura-nao-havera-sociedade-democratica-enquanto-houver-capitalismo
[consultado a 8 de Novembro às 14h25]
[3] Diário de Notícias, O povo na rua, artigo publicado no
Diário de Notícias a 5 de Novembro de 2013. [consultado a partir da edição impressa]
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